Márcia Villela NederDurante muito tempo,
a mulher viveu de maneira passiva um dos
momentos mais importantes
de sua vida, o nascimento de seu

filho. Agora, ela reivindica uma participação mais
ativa que inclui também o pai.

 

A sala está quieta e em penumbra. Tânia está de cócoras, com os joelhos apoiados em um suporte especial na cadeira branca. As mãos, crispadas pela dor das contrações, seguram firmemente uma barra de metal. O marido está presente. Encoraja Tânia e a acaricia. O obstetra e seu assistente conversam docemente com a mãe, dando-lhe coragem e ânimo, enquanto verificam a dilatação do colo do útero. Quando chega a hora, Tânia se contrai, joga a cabeça para trás e dá um grito. O bebê sai com facilidade, sendo aparado na parte central da cadeira, onde há um colchãozinho aquecido a 37º. O médico recolhe o bebê e o coloca no colo da mãe. Reclama um pouco, faz algum ruído mas não chora. Ela massageia bem devagar suas costas, até que o cordão umbilical pára de pulsar. É o momento de cortá-lo. Depois, começa a mamar. Na sala de escuta apenas a vigorosa sucção do neném. A serenidade e a alegria estão estampadas no rosto dos pais. Agora chegou a hora do pai segurá-lo. Com a ajuda do médico, é quem vai dar o banho no filho. Enquanto diz palavras carinhosas bem baixinho, passa as mãos levemente por sobre todo o corpo do bebê. Ele está sereno e sorri. Se alguém fala perto, vira a cabecinha nesta direção. Parece que realmente pode perceber as pessoas que estão à sua volta. Novamente vai descansar no seio da mãe para mamar outra vez. A afetividade na sala é intensa. Mas chega a hora do bebê ir para o berçário nos braços de uma enfermeira. O médico examina o canal de parto e verifica que está tudo bem. Tânia reclama da fome e diz que quer comer pão com manteiga. Sente-se tão bem que pede para ir caminhando até o quarto. No corredor do Centro Cirúrgico, um médico surpreso cruza com Tânia e pergunta: “Ué, você caminhando por aqui, o bebê ainda não nasceu?”.

Este não é um parto ideal. É o parto de Tânia Taterka, 33 anos, casada com Vaica de Freitas, 27 anos, ambos artesãos, ocorrido em São Paulo, no fim de agosto de 1981. Ela é mais uma das centenas de mulheres que em todo o mundo estão procurando um tipo de parto mais “natural”, mais “humanizado”, uma alternativa para este momento tão importante na vida da mulher. Diante do excesso de tecnicismo, preferem participar ativamente em vez de ficarem desacordadas – caso não seja estritamente necessário -, querem ter o seu bebê consigo, querem vê-lo ser tratado com carinho, querem ter o companheiro ao lado, e, sobretudo, querem estar informadas sobre o que significa de bom e de ruim nesta hora.

Estas mulheres estão se defrontando com novas opções, pois no decorrer dos últimos anos a medicina obstétrica passou por duas revoluções aparentemente contraditórias. A primeira deu ênfase crescente ao parto como o de Tânia, um acontecimento alegre, centralizado na família, enquanto, por outro lado, criava-se uma dependência cada vez maior das intervenções de alta tecnologia.

A reação mundial que procura humanizar o parto surge, portanto, em conseqüência das inúmeras e cada dia mais freqüentes queixas das mulheres que, apesar dos bons cuidados médicos que recebem, sentem-se frustradas e infelizes com a frieza e a falta de afeto com que são tratadas em um grande hospital na hora de terem um bebê.

“No parto do meu primeiro filho, o médico queria me pôr uma máscara para me deixar tonta”, diz Maria do Carmo Mucci, 38 anos, comerciante. “Eu lhe pedi que não fizesse isso, que eu estava aguentando bem as contrações e queria ver meu bebê nascer. Mesmo assim, o anestesista puxou meu braço e me deu uma injeção de Nembutal na veia. Quando o meu filho nasceu, eu estava desacordada. No momento em que ele mais precisava de mim, fui manipulada contra a minha vontade, e sem necessidade, já que era parto normal, sem nenhum problema.”

O ginecologista e obstetra paulista Denis de Moraes Ferrari, membro do Grupo de Atendimento Psicossomático, que há 10 anos trabalha pela maior participação da mulher durante o parto, diz que esta tendência é crescente: “A mulher hoje está realmente buscando a participação. Quer ser tratada como gente, quer informação. Esta buscando um novo relacionamento com seu obstetra”.

O ginecologista e obstetra Cláudio Basbaum, introdutor do método Leboyer no Brasil, e há 8 anos lutando pela “humanização” do parto, para a mãe e para a criança, diz que quando a mãe está preparada, ela quer participar: “Com a presença ativa também do pai, celebra-se uma festa de família, integrando este bebê nesta pequena comunidade que é o casal, apaziguando-se as ansiedades dos pais e do recém-nascido. A desinformação e os tabus é que transformaram o parto em uma tragédia.”

Para a ginecologista, obstetra e médica homeopata Maria Célia Del Vale, que vem desenvolvendo o parto de cócoras e debaixo d’água, a medicina tradicional separa desnecessariamente a família: “A cena clássica já virou até folclore de filme. O pai fumando desesperado no corredor, a mãe sozinha na sala cirúrgica, e uma criança abandonada em um berçário impessoal. Isto não é um bom para ninguém. Hoje em dia, a mulher é massacrada emocionalmente nos grandes hospitais. Ela tem toda razão em reclamar”.

Quando se fala em parto “natural”, instaura-se a polêmica, porque ele traz imediatamente a ideia de uma mulher primitiva, dando à luz em uma tosca cabana, no meio do mato, à moda índia, sem ajuda de espécie nenhuma. Muitas autoridades médicas protestam, alegando que o parto natural seria um passo atrás no progresso constante da ciência obstétrica. No entanto, nenhum dos médicos que propõem a humanização do parto abre mão destes avanços que, em realidade, constituem a base da preservação da saúde e segurança de milhares de mães e crianças. O Dr. Cláudio Basbaun faz questão de enfatizar este ponto: “A obstetrícia clássica em termos médicos deve ser respeitada. Quando os processos orgânicos se tornam anormais, a ponto de ameaçar a segurança do parto, as técnicas modernas devem ser postas em jogo para corrigir a situação. Se é necessária uma cesariana, ou uma episiotomia (uma incisão na vagina para facilitar a saída do bebê e evitar o rompimento do períneo), faz-se. Nós temos que trazer do passado o que ele tem de bom e não regredir”.

O Dr. Denis de Moraes Ferrari, por sua vez, diz que para a mulher enfrentar um procedimento como esse, quando está cheia de expectativas de um parto normal, é necessário que ela esteja muito bem preparada porque só assim, diante de um imprevisto, colaborará com o máximo de suas possibilidades. Por isso, a ideia de parto “natural” está muito mais ligada à informação que a mãe tem, sua postura em relação ao obstetra, à maternidade e ao parto, do que a tipos de técnicas para ter o bebê. O parto em si não é importante. Ele é um tempo obrigatório para que haja o contato entre um filho idealizado e o filho real. Porque se deve entender o parto de uma forma mais ampla. Em vez de um, são quatro nascimentos: o de uma mãe, o de um pai, o de um filho, o de uma família.

Na verdade, a nação de humanização do parto não é nova. Já na década de 20, com o lançamento do livro de Otto Hank, O Traumatismo do Nascimento, começou-se a discutir o lado psicológico do parto e do nascimento. Em 1933, o médico inglês, Grantly Dick Read publicou o livro “Parto Natural”, onde analisava a influência dos fatores emocionais sobre o parto.

Esta polêmica que se arrasta há 60 anos, ainda não encontrou um caminho definitivo. Discute-se qual é a melhor maneira do bebê nascer, a melhor maneira da mulher ter o filho, o parto de cócoras, debaixo d’água , sentando, deitado, o excesso de cesariana e os riscos de ter um filho em casa. As mulheres estão mergulhadas em milhares de teorias, opiniões discordantes e novas técnicas sem saber os riscos que correm e o que escolher. E se perguntam: Será que uma mulher pode contas com os dois aspectos que lhe são mais fundamentais – a maior segurança possível e uma experiência emocional inesquecível – em qualquer das novas opções de parto que ela tem a sua escolha?

Leboyer o respeito e o afeto na chegada do bebê.

Quando se fala em novas alternativas de parto, menciona-se imediatamente a teoria do Dr. Frederick Leboyer, embora ele tenha abordado o nascimento somente do ponto de vista do bebê. Sua teoria nunca falou em técnicas médicas de parto. O que ocorre é que os estudos do Dr. Leboyer defendem a aproximação do bebê com a mãe, exatamente o que a mulher mais deseja.

“Eu acabo de ter o quinto filho”, conta Tânia Taterka. “Nos três primeiros partos, fiquei profundamente frustrada, quando levavam meu bebê embora. A magia do parto não aconteceu. Mas, nos dois últimos, eu fiz o parto Leboyer. Foi muito mais emocionante poder segurá-lo, ver com é seu rosto, senti-lo no meu peito. Não troco este tipo de parto por nenhum outro”.

Foi uma viagem à Índia que fez o Dr. Leboyer repensar toda a sua vida de obstetra. A filosofia oriental ensinou-lhe o quanto era importante para o bebê sentir a pele e o cheiro da mãe logo após o nascimento. Leboyer observou que as mães indianas massageavam seus filhos com óleos, porque este tipo de carinho era tão importante quanto um alimento. Ao voltar para o ocidente, escreveu o livro Pour une Naissance sans violence (aqui traduzido para Nascer Sorrindo), que representaria uma revolução em todos os conceitos vigentes.

“Quando li o livro de Leboyer”, conta o Dr. Cláudio Basbaun, “o que me fez parar para pensar foi a sua pergunta: ‘Nascer é bom?’, ‘O bebê quando nasce já é uma pessoas?’ Hoje já sabemos que nascer não é bom. E o bebê já é uma pessoa pronta, estruturada em todos os planos, físicos e psicológicos, afetivos e sensoriais. Esta ‘pessoinha’, que não é um adulto em miniatura, é uma criatura muito vulnerável, ‘cera virgem’ como diz Leboyer, onde todas as impressões que lhe impusermos ficarão marcadas para sempre. Ela não tem os filtros necessários para se isolar e se defender das agressões do nosso meio. Ela recebe todos os instintos com muita intensidade. Agrava-se o natural stress do nascimento com o stress que se provoca sobre esta criança com o procedimento clássico. Antinatural, o parto ‘civilizado’ viola pelo menos duas leis da espécie: a adaptação lenta a condições estranhas de vida e a espontaneidade com que esta adaptação tem que ser feita. Mudar de atitude e acolher bem a este pequeno viajante depende fundamentalmente de uma nova postura filosófica do médico “.

O Dr. Denis de Moraes Ferrari discorda da teoria do Dr. Leboyer, no que se refere ao trauma do nascimento: “Acho que há um certo exagero em fazer parto em penumbra, silêncio, com o banho da forma que é feito, porque acredito que o bebê está saindo de um ambiente que ele não quer mais. Ele quer vir para o claro, para o seco, onde ele vai passar a viver. Senão, estaria voltando a uma etapa anterior. Acho que valorizar isto significa valorizar o que é menos importante na teoria Leboyer. O que fica de fundamental no seu trabalho é que ele encara o bebê como gente e estimula o contato precoce com a mãe, o que eu acho benéfico”.

“O afeto é que tem importância”, diz o psiquiatra paulista Paulo Gaudêncio: “Não acredito na teoria do Leboyer de trauma do nascimento, porque o bebê não está com seu sistema nervoso suficientemente desenvolvido para sentir e guardar o chamado choque do parto. É uma projeção do adulto, dizendo o que sentiria se nascesse, já com o sistema que tem como adulto. Por outro lado, o parto Leboyer é profundamente terno e carinhoso. Mãe e pai igualmente envolvidos nesta atmosfera, o que será certamente benéfico para o bebê a partir daí”.

É pelas inúmeras vantagens que o contato imediato da mãe com a criança oferecer que vem se desenvolvendo em todo mundo a implantação de salões de parto com alojamento conjunto para o bebê. No Manchester Memorial Hospital, nos Estados Unidos, em 1969, foram abertos três destes salões e hoje calcula-se que já cheguem a 500 mil espalhados pelo país. No salão, os pais e a criança ficam juntos (em alguns hospitais, até os avós e irmãos do bebê) durante o parto e têm toda segurança possível do ponto de vista médico. Normalmente, eles são decorados como uma casa, com cortina na janela e tapete no chão, uma colcha colorida e uma cadeira de balanço. A experiência do alojamento conjunto, embora com menos requinte, já está sendo tentada no Brasil em algumas clínicas particulares e até em uma maternidade do INPS que atende a população carente do Rio de Janeiro, a Maternidade Praça XV, com excelentes resultados.

Das sociedades primitivas à era moderna, o parto vertical.

O parto de cócoras ou sentado, também chamado de vertical, é uma técnica milenar cujos primeiros registros remontam a 1450 antes de Cristo. Papiros e uma escultura encontrada em Luxor mostram que os faraós do Egito nasciam dessa maneira. Na Alemanha do século XVIII, o parto sentado era tão popular que se desenhou uma cadeira especial para isso, com um buraco no assento. Hoje, modernizada e adaptada, esta cadeira está sendo utilizada em vários centros obstétricos em todo o mundo.

No Brasil, mais recentemente, começou-se a discutir o parto de cócoras a partir da experiência de dois médicos paranaenses, pai e filho, Cláudio e Moisés Paciornik, que foram cuidar das índias da Reserva Chapecó, em Santa Catarina, e perceberam que elas tinham os órgãos genitais em condições muito melhores do que suas habituais pacientes.

Nos últimos anos, em vários países, vem sendo reavaliado o parto horizontal, um hábito que só foi implantado em 1710 por um médico da corte francesa, chamado Muriceau, que adaptou os costumes da época às mulheres obesas daquele tempo, acostumadas a não fazer nada.

“No trabalho que eu venho desenvolvendo”, diz a Dra. Maria Célia Del Vale, “procuro deixar que a própria mulher escolha a posição que sente mais confortável durante o trabalho de parto. Elas ficam de cócoras, de pé, sentam, ficam de joelho ou de quatro no chão, mas dificilmente deitam, porque não se sentem bem assim”.

O Dr. Cláudio Basbaun explica por que também escolheu o parto de cócoras: “O parto deitado comprime a veia cava, importante no retorno de todo o sangue que vem dos membros inferiores e dos órgãos da bacia, promovendo uma estase (redução do fluxo sanguíneo). Com isso, os ovários têm sua irrigação conturbada, as varizes dos membros aparecem e crescem, as trocas sanguíneas feto/placenta se fazem com enorme dificuldade, diminuindo a oxigenação do feto, que precisa acelerar muito seu coração para compensar níveis tão baixos de oxigênio. Reduzido o fluxo de retorno, inicia-se todo o ciclo outra vez. E a criança entra em sofrimento. O que faz o obstetra clássico? Coloca a mulher deitada de lado. Por que não de cócoras? Ou de pé? Melhor de cócoras porque nesta posição é menor a oxigenação dos membros inferiores, favorecendo a melhor irrigação dos órgãos mais nobres que vão ser solicitados durante o parto. Não se comprime a veia cava, a criança fica de fato com a cabeça para baixo, não deglute e não aspira, suas secreções vão sendo eliminadas naturalmente por ação da gravidade. Assim, não é preciso dar palmadas na criança nem fazer aspirações “.

“Na verdade, a posição deitada comprime a veia cava”, explica o Dr. Denis de Moraes Ferrari, “mas basta segurar o útero para a esquerda e ela fica liberada, resolvendo o problema. Para mim, a melhor posição é a semi-sentada, que permite a mulher fazer o seu próprio parto. O que não resolver é trazer comportamentos de outras culturas para a nossa. A Índia vive de cócoras, anda e trabalha na selva. A branca, não”.

Justamente porque a mulher branca tem um tipo de vida bem diferente, com a musculatura não acostumada a ficar de cócoras, utiliza-se uma cadeira especialmente desenhada para isso. Segundo o Dr. Cláudio Basbaun, enquanto na mesa o sacro e o cóccix são apertados para diante, na cadeira a abertura do assento permite a retro-pulsão desta estrutura, ampliando o diâmetro da bacia, o que torna muitas vezes desnecessários o corte, porque aumenta cerca de quatro centímetros o canal vaginal.

A Dra. Maria Célia Del Vale também é adepta do parto de cócoras. Mas, paralela a esta técnica, ela vem utilizando em alguns casos um outro elemento: a água.

Adriana nasceu nadando e a mãe sentiu menos dor.

Às 9 horas da noite arrebenta a bolsa d’água de Erly. As contrações começam, primeiro lentas, depois aumentando pouco a pouco. A pequena dilatação anuncia um longo e penoso trabalho de parto. Mas Erly tem uma maneira de diminuir um pouco as dores: uma pequena banheira de madeira forrada com plástico, construída pelo pai, que pacientemente controla a temperatura da água para que não baixe de 39º. Erly quer guardar este trunfo para mais adiante. Então caminha, senta-se, ouve música. Manfredo, o marido, divide-se entre conversar com Erly para aclamá-la e encorajá-la e cuidar de Érica, a filhinha de 1 ano e meio. E ele será incansável durante esta noite inteira. Quando as contrações ficam dolorosas demais. Erly resolver entrar na água. A expressão de alívio é imediata. Ás 5 horas da madrugada, a dilatação é de 8 cm. A médica faz algumas manobras para facilitar a saída do bebê. A cabeça já é visível e finalmente ela sai. É uma menina de quatro quilos, enorme e cor-de-rosa. Lentamente ela vem à superfície e é colocada no colo da mãe. Levanta o bracinho e passa pelo rosto de Erly. O pai acaricia as suas costas.

A experiência do parto na água tem pelo menos 20 anos, idade da filha do seu criador, o médico russo Igor Sharkowsky. Já que os bebês passam nove meses mergulhados no líquido amniótico – meio em que a criança se desenvolve no ventre materno -, nada mais natural para eles que nascer dentro d’água, uma substância conhecida. A temperatura é a mesma de dentro do útero e o clima é de afeto, segundo as teorias do Dr. Leboyer. Coloca-se apenas um pouco de sal na água para que a criança estranhe e não enguia.

A Dra. Maria Célia del Vale diz que sua experiência com partos em água ainda não lhe permite afirmar que seja a melhor técnica para a criança e somente a utiliza nos casos em que a mãe está muito aflita e sentindo muitas dores, porque a água quente é um relaxante importante na hora das contrações.

O Dr. Denis Ferrari concorda que a água quente é um relaxante muscular eficiente, mas defende a ideia de que, se há dor, deve-se dar anestesia. “Deixar que a mulher sinta muita dor não leva a nada, só deixa ela mais tensa. Exercícios de parto sem dor, apenas ajudam, não a eliminam. Temos que dar a anestesia precocemente, durante o trabalho de parto. A peridural não torna a mulher passiva e ela pode continuar ajudando, fazendo força, consciente”.

O parto de Erly Catarina de Moura, 27 anos nutricionista, casada com Manfredo Tabacniks, 26 anos, físico, chama a atenção por um aspecto muito polêmico: o fato de ser feito em casa. “Eu já tinha trabalhado em um grande hospital como nutricionista, e não me agradou ver como os bebês eram largados no berçário, sem muito cuidado. Depois que tive um problema durante a gravidez por causa de um remédio que me foi receitado, fiquei muito assustada com a perspectiva de não ser tratada de forma adequada num hospital tradicional. Sobretudo porque eu não tinha dinheiro suficiente par fazer o parto numa clínica particular. Resolvi então me cuidar com a homeopatia e naturalmente acabei optando pelo parto mais natural possível, dentro de casa, porque achei que seria melhor para mim e para o bebê. Encontrei uma médica que aceitou fazer isso, e procurei me cercar de toda a segurança possível. Realmente, eu e Manfredo nunca pensamos em fazer o parto sozinhos. A presença de um especialista é fundamental nesses casos. Durante o parto, inclusive, senti que em muitos momentos a médica fez diversas manobras obstétricas que foram importantes para o andamento do trabalho de parto e nascimento do bebê sem problemas”.

A Dra. Maria Célia del Vale, embora admita que o parto feito em hospital é mais seguro, diz que o número de partos com problema é bem menor do que se pensa. “Dá para prever os casos em que há chance de riscos e estes eu só faço em hospital. Quando é em casa eu levo o material essencial para o parto, o equipamento necessário para reanimar o bebê, oxigênio e ressuscitador portátil”.

Apesar de reconhecer que o parto em casa é uma realidade no Brasil e que a porcentagem de partos com problemas é realmente baixa, o Dr. Denis Ferrari diz que a margem de risco não deve ser desprezada, para não colocar nenhuma vida em perigo: “Pode haver um deslocamento prematuro da placenta – o neném não nasceu e a placenta se desloca do útero – e é necessário fazer uma cesariana imediata, o que não pode ser feito em casa. Isto pode levar a um sofrimento fetal agudo e à morte do neném. Não há como prever com segurança uma situação como essa, embora seja mais freqüente em mulheres hipertensas. O bebê também pode ter uma queda na freqüência cardíaca, independente de problemas com placenta, que também exija um parto rápido”.

Nos Estados Unidos, o Dr. Lewis Mehl, da Califórnia, estudou 1046 patos domiciliares e 1046 patos hospitalares, com mães comparáveis em todos os fatores de perigo. E os resultados foram desfavoráveis para o hospital.

No hospital a probabilidade de operações cesarianas foi três vezes maior, as episiotomias foram nove vezes mais freqüentes e o processo levou sempre um período consideravelmente maior para ser feito. Sofrimentos fetais durante o trabalho de parto, infecções do recém-nascido, bem como ferimentos durante o parto também tiveram uma incidência bem maior no ambiente hospitalar.

O pai e a emoção de dar o primeiro banho no filho.

“Assistir o parto de Maria do Carmo foi a coisa mais emocionante de minha vida”, conta Celso Marques Soares, 40 anos, comerciante. “Na hora do banho, senti um certo temor e uma satisfação muito grande porque ele não estava na barriga da mãe, ele estava na minha mão. Agora, ao falar, estou revivendo emoções intensas. Estou percebendo novamente como foi importante para mim”.

Como Celso, Manfredo também participou ativamente dos dois partos de Erly: “Quando minha primeira filha nasceu, fiquei mais de 20 minutos dando banho nela. Gostei tanto que durante mais de três meses só eu dei banho em Érica”.

Todos os homens entrevistados que passaram por esta experiência manifestaram profunda emoção. E na é importante só para eles. O Dr. Cláudio Basbaun recomenda a participação do pai porque também representa um fator de segurança para a mãe. O Dr. Denis Ferrari acha que não se deve excluir o pai, mas não é necessário criar funções específicas para ele. “A presença do pai é igualmente importante, seja nas consultas, nos cursos ou no parto”.

O psiquiatra Paulo Gaudêncio, que assistiu o parto de seus cinco filhos, diz que este momento aprofunda a relação do casal: “Eu vi o seu esforço, vi o que ela sofreu e sofri junto. Esta ligação é positiva e vai se refletir na criança. O nascimento é sempre um momento de intensa alegria para todos, até médicos e enfermeiras, mesmo que seja no chamado parto tradicional. Na verdade, a opção pelo parto natural só é importante se estiver de acordo com uma postura permanente de vida do casal. Se é um pai rígido e uma mãe moralista, não vai mudar nada e a criança vai ficar tão neurótica como qualquer outra. É uma escolha de vida e não de parto”.