A pergunta pode soar bastante óbvia, mas a verdade é que a maioria das mulheres só começa a ir ao ginecologista quando sente algum desconforto, dor ou já apresenta sintomas de algo com sua saúde íntima não está bem: corrimento, sangramento abundante, ausência de menstruação…

Fiz uma pequena pesquisa no meu perfil do Instagram (@dr.basbaum) para verificar despretensiosamente qual seria a proporção entre mulheres que foram ao ginecologista logo após a menarca, primeira menstruação, e entre as que foram só quando tiveram um problema.

O resultado foi: quase 70% das pessoas disseram ter ido ao ginecologista apenas quando tiveram algum problema. Esse dado me chamou a atenção porque mostra como ainda não entendemos a importância da PREVENÇÃO. Prevenção de saúde e de gestações indesejadas.

Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente a adolescência vai dos 12 aos 18 anos e falar sobre métodos anticoncepcionais e infecções sexualmente transmissíveis deveria ser entendido como uma prioridade para preservar a saúde de milhares de meninas.

 

“7,3 milhões de meninas e jovens grávidas no mundo”

Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), das 7,3 milhões de meninas e jovens grávidas no mundo, 2 milhões tem menos de 14 anos. As taxas de mortalidade são elevadas e chegam a 70 mil mortes de adolescentes por problemas na gravidez ou no parto.

O estudo mostra também que mães adolescentes tendem a abandonar os estudos para criarem seus filhos, têm 3 vezes menos oportunidades de conseguirem um diploma universitário e ganham, em média, 24% a menos do que mulheres da mesma idade sem filhos.

 

Por que é importante levar a jovem ao ginecologista?

Nem sempre a família e a própria menina sentem-se à vontade para tirar dúvidas entre si e o risco é de que ela descubra por conta própria em fontes de informação não seguras. Ou, por influência de amigas(os), escolha sozinha um método contraceptivo sem saber se é realmente seguro e colocando em risco sua saúde.

É o(a) ginecologista quem pode orientar sobre esses cuidados e também sobre a higiene com a chegada da menstruação, a analgesia para cólicas ou qualquer outro desconforto que ela esteja sentindo.

Além disso, o(a) ginecologista se tornará o(a) médico(a) dela dali para frente. Não será mais o pediatra e sim esse profissional que as acompanhará por toda a vida. Inicia-se uma nova fase cheia de descobertas, curiosidades, hormônios e essa jovem que está em intensa transformação física e emocional, precisa de acolhimento.

 

A orientação sobre métodos contraceptivos, doenças sexualmente transmissíveis

Na consulta das adolescentes, orientar sobre a responsabilidade de iniciar a vida sexual, os métodos contraceptivos e como prevenir infecções sexualmente transmissíveis, é uma das formas mais eficazes para preservar a saúde feminina.

Uma gravidez indesejada, uma doença adquirida em uma relação casual ou um quadro clínico que leve a esterilidade, como a endometriose, podem ser evitados com visitas periódicas das jovens ao ginecologista.

O acompanhamento ginecológico desde a 1ª menstruação contribui para que as meninas entendam o funcionamento de seus corpos, compreendam que devem ser respeitadas em qualquer tipo de relação e escolham o contraceptivo de acordo com sua saúde, maturidade, realidade financeira: pílula, adesivo, implante, DIU, injetável…

 

O direito à privacidade da jovem

Queridos responsáveis, não tenham receio de levar as jovens ao ginecologista: o conhecimento é uma ferramenta poderosa para que as jovens não sejam pressionadas por parceiros(as), evitem doenças sexualmente transmissíveis e gestações indesejadas.

Assim como a mulher adulta, as jovens também querem se sentir seguras e confiar no(a) médico(a) que as atende. É mais seguro que as adolescentes sejam orientadas corretamente por um médico, profissional que se dedica a preservar a saúde feminina.

Por isso, deixe-a ser a protagonista da consulta, tirar dúvidas e contar o que sente. Ela tem direito ao sigilo, à privacidade na consulta e de escolher se quer companhia na sala de consulta. A exceção cabe para doenças graves, deficiência intelectual ou casos de abuso.