Uma reportagem de Silvia Regina, na revista Pense Leve, mostra que com tratamentos eficientes é possível evitar a perda do útero e viver sem sintomas indesejáveis de miomas.No Brasil, estima-se que 300 mil mulheres por ano perdem o útero. O número é baixo se comparado aos Estados Unidos onde essas cirurgias atingem 1 milhão de pacientes por ano. Mas não deixa de ser assustador, ainda mais pelo fato de que o procedimento poderia ser evitado na maior parte das vezes. De acordo com o ginecologista Cláudio Basbaum, de São Paulo, cerca de 2/3 dessas cirurgias são feitas desnecessariamente. “O útero é um órgão importante para a mulher, está ligado à feminilidade. Com a retirada, algumas se sentem frias, com baixa auto-estima e vazias por dentro”, revela o médico que há dez anos está à frente da campanha “Mulheres: salvem seus úteros”.

mioma um problema delicadoTumor benigno

O mioma – um tumor benigno, parecido com uma bolinha de músculos, que acomete úteros de pacientes em qualquer idade – é mais comum do que se imagina. “Acreditamos que 50% das mulheres brasileiras tenham miomas”, afirma Basbaum. O que acontece é que nem sempre todos os casos são diagnosticados. Às vezes o mioma é tão pequenino que nem através da ultrassonografia é possível vê-lo.

O diagnóstico, geralmente, é feito por acaso. Acontece num exame de rotina onde o profissional pede a realização de um ultra-som para verificar o estado geral do útero ou quando a mulher começa a sentir alguns sintomas característicos do aparecimento desses nódulos. É feito, então, um exame físico mais detalhado que pode acusar o aparecimento de um ou mais miomas. “O mais comum é encontrar de três a cinco miomas”, revela o médico Basbaum. E há casos mais difíceis de acontecer, porém não impossíveis, do útero ser tomado por mais de 10 miomas de tamanhos variados.

Célula silenciosa

Se por um lado alguns miomas trazem problemas, outros são tão silenciosos que nem atrapalham a vida da mulher. “Há pacientes que não sabem que têm mioma, já que eles são assintomáticos”, explica a ginecologista Ana Maria Gagliardi, do Hospital São Luís, de São Paulo. São aqueles que não requerem qualquer tipo de tratamento. Uma vez diagnosticado, porém, recomenda-se apenas o acompanhamento médico anual ou duas vezes por ano para verificar as condições do nódulo.

Há outros miomas que estão alojados no útero e que de uma hora pra outra começam a crescer. As causas ainda não são totalmente conhecidas. Sabe-se apenas que o desenvolvimento de miomas está ligado a uma predisposição genética e uma maior sensibilidade das fibras musculares uterinas aos hormônios femininos – estrógeno e progesterona. Assim, os miomas podem estar quietinhos no útero e quando a mulher passa a tomar pílulas anticoncepcionais ou faz um tratamento médico a base de hormônios, por exemplo, os miomas aumentam e causam incômodos.

O efeito contrário acontece com a chegada da menopausa. Como há diminuição na fabricação de hormônios, esses miomas são menos estimulados. Regridem de tamanho e passam a não incomodar.

Sintomas que são alerta

Conheça os principais sintomas que podem evidenciar o aparecimento de mioma uterino:

– Sangramento uterino anormal fora da época da menstruação.
– Cólicas menstruais intensas.
– Sensação de que os órgãos internos, como bexiga e intestino, estão sendo comprimidos.
– Crescimento anormal do útero. Em alguns casos, parece que a mulher está grávida.
– Dor anormal nas costas e nas pernas.
– Dor abdominal que pode ir e voltar ou pode se instalar permanentemente.
– Anemia por sangramento uterino anormal.
– Vontade constante de urinar.
– Dor durante as relações sexuais.

Fertilidade e gravidez

Embora o aparecimento do distúrbio não seja empecilho para uma gravidez, pode dificultar um pouco a fertilidade. Acontece que um útero com miomas acaba atuando como uma barreira que dificulta o caminho do esperma até o óvulo.

Grávidas que tenham mioma têm mais chances de abortamento e podem sofrer com dores durante a gestação, pois o nódulo comprime os demais órgãos. Além disso, contrações involuntárias provocadas pelo problema podem levar a partos prematuros. A ginecologista Ana Maria Gagliardi, porém, esclarece que não é preciso se apavorar. “Raríssimas vezes retiramos o mioma com a paciente grávida. Às vezes o mioma fica ali na parede do útero e não causa nenhum problema”, explica.
Menopausa temporária

Apenas uma pequena parcela das pacientes que têm miomas precisam recorrer a tratamentos. Existem técnicas eficazes e seguras que garantem qualidade de vida para a mulher. Desde o uso de medicamentos até cirurgias minimamente invasivas. O tratamento clínico é feito com antiinflamatórios qua ajudam a aliviar as dores abdominais e as cólicas menstruais. Outra alternativa é usar análogos do GnRH. São substâncias que estimulam os ovários e bloqueiam a fabricação de hormônios pela hipófise – pequena glândula situada na base do cérebro. “Com isso criamos um estado temporário de menopausa. A mulher pára de menstruar e os miomas regridem”, revela Cláudio Basbaum. Apesar de simples e eficaz essa técnica não é vista como único tratamento. Ela é ideal para preparar a paciente que vai passar por uma cirurgia de retirada do mioma ou para cessar incômodos graves, como sangramento anormal. “Sozinha é pouco eficaz. Assim que pára de tomar o análogo, a tendência é que os miomas voltem a crescer”, explica.

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Cortes pequenos e recuperação rápida

O tipo de cirurgia vai depender também do tipo do mioma. Quando estão localizados fora do útero é aconselhável o uso de videolaparoscopia. Nesse caso, é feito um pequenino corte no abdome por onde é introduzida uma microcâmera para fazer a visualização do mioma e também sua retirada. Quando ele está dentro da parede uterina – endométrio – é feita a vídeohisteroscopia. O procedimento é o mesmo da videolaparoscopia. A única diferença é que a câmera é introduzida pela vagina. A vantagem desses procedimentos é que o pós-operatório é bem tranqüilo. Geralmente, a paciente passa um dia no hospital e depois de sete dias pode voltar à vida normal.

Há ainda a possibilidade de fazer a miomectomia que é a retirada dos miomas pela técnica tradicional, ou seja, abrindo a cavidade abdominal e o útero. Nesse procedimento é preciso que a mulher fique de três a quatro dias internada. A recuperação leva cerca de seis semanas.

Várias formas

Existem três tipos de mioma. A classificação se dá a partir da localização desses nódulos:

Subserosos: são os miomas mais externos, crescem para fora do útero. Nesse tipo não há hemorragia, mas com o crescimento a mulher sente os órgãos internos – como bexiga e intestinos – serem comprimidos, provocando dores e desconforto.
Intramurais: esses são os mais comuns. Formam-se na parede uterina e podem produzir os mesmos sintomas dos miomas subserosos, além de alteração no fluxo menstrual.
Submucosos: são os menos frequentes. Crescem abaixo do endométrio (camada interna que recobre o útero) e causam significativas hemorragias genitais ou sangramento menstrual abundante ou prolongado.

 

Embolização e alcoolização

Uma técnica usada com bastante sucesso é a embolização. Nesse procedimento um fino tubo de plástico – cateter – é introduzido através de um corte de dois milímetros na virilha. É usada uma anestesia local. Com as imagens transmitidas pelo cateter, é possível alcançar as artérias que alimentam o útero e o mioma. Ali se injeta embolizantes – material sintético fino como um grão de areia – que interrompe a passagem do fluxo sangüíneo. “Sem essa irrigação, os miomas não têm como se alimentar e acabam murchando”, explica Basbaum. Na embolização o útero não é agredido e o procedimento cirúrgico é muito rápido, dura cerca de uma hora. Nos casos extremos em que o mioma é muito grande, os médicos associam a embolização com outra cirurgia para retirar o que sobra do mioma. Depois do primeiro mês da embolização, 90% das mulheres que tinham sangramentos intensos voltam a ter menstruações normais. Após o terceiro mês, 95% livram-se também das cólicas menstruais. O tamanho do útero e o mioma regridem em até 90% após um ano de cirurgia.

Outra opção de tratamento é a alcoolização. O método foi criado pelo ginecologista Lucilo Ávila, de Recife, há cinco anos. Consiste em injetar álcool – próprio para medicina – no mioma através de uma agulha bem fina colocada no transdutor vaginal. “O álcool promove um entupimento de vasos no organismo. No caso dos miomas, eles deixam de ser nutridos e encolhem”, afirma Ávila. Para acertar o alvo, o médico acompanha as imagens através do ultra-som. De acordo com ele, o procedimento é mais rápido que a embolização e tem o custo baixo. Além disso, em um dia a mulher pode retomar sua rotina normal. “A alcoolização não faz o mioma sumir, mas aniquila para sempre todos os seus malefícios e reduz o volume do nódulo pela metade”, conclui Ávila.