>> Amamentar necessariamente dói?

R: A sensibilidade à dor é algo muito específico e particular e, no caso das recém paridas, há também um viés emocional importante relacionado aos receios e inseguranças da maternidade.

O início da amamentação, ato natural para todos os mamíferos, tão fundamental para a formação do vínculo mãe / bebê e para a nutrição e imunidade dos pequenos, requer uma série de necessidades adaptativas que normalmente acontecem de forma espontânea. Caso a mãe sinta que o processo esteja muito difícil, doloroso, sempre indico que procurem ajuda profissional especializada em aleitamento materno. É recomendável que todas as orientações sobre amamentação sejam oferecidas a gestante durante todo o pré-natal.

São comuns alguns desconfortos na primeira semana após o nascimento ou mesmo dores de intensidade moderada no local da sucção. Porém, com orientações adequadas sobre cuidados e técnicas, as dificuldades naturais do aprendizado são superadas, tanto para a mãe quanto para o bebê.  

Compressas frias, massagens suaves e elevação das mamas, soutiens adequados, eventual uso de medicamentos podem contribuir para ajudar a mamãe a manter a amamentação que deve ser sempre em livre demanda. Nesse quesito o apoio do companheiro e dos familiares é essencial.

A causa mais comum da dor ao amamentar é a pega incorreta do bebê. Além de dificultar a saída do leite, causando ingurgitamento mamário, a pega incorreta pode machucar a pele e os mamilos (rachaduras mamilares) por conta do atrito repetitivo. Além deste aumento da sensibilidade local, o cansaço, as horas sem dormir, a inexperiência, a insegurança pelo novo e desconhecido, contribuem muito para reforçar esta queixa de dor ao amamentar.

Para que haja uma boa pega, a barriguinha do bebê deve estar confortavelmente direcionada para o lado da barriga da mamãe, mantendo o queixo apoiado na mama, para que suas narinas estejam livres para respirar. Além disso, a boquinha deve estar com os lábios afastados (“boca de peixinho”) pegando inclusive a região da aréola, principalmente a parte inferior, para sugar com eficiência. Compete à equipe médica, dar estas orientações desde o pré-natal e reforçar logo após o nascimento. Com o tempo, o ato de dar o seio passa a ser um momento de realização sublime para as mulheres, intensificando o sentimento materno promovido pelo aumento do hormônio ocitocina. Para o nenê, a amamentação significa nutrição, hidratação e aconchego amoroso.

 

>> É verdade que algumas mães produzem leite mais fraco?

 R: Essa história de “leite fraco” definitivamente é um mito! Não existe leite fraco! Se as mamas estão produzindo leite adequadamente, em volume suficiente, o leite é bom.  É preciso esclarecer a lactante que o aleitamento materno tem 3 fases ou estágios, típicos e definidos: 

– a 1ª fase começa logo após o parto quando o bebê começa a sugar o seio materno já naquela primeira hora após o nascimento, conhecida como “golden hour” ou” hora dourada” que, na verdade, dura de 3 à 5 dias. Neste período é produzido e liberado em pequenas quantidades o colostro, mais líquido e mais transparente que o leite maduro. O colostro é amarelado, viscoso, altamente energético, rico em nutrientes (vitaminas, carboidratos, com mais proteínas do que gorduras, prebióticos naturais que atuam na regulação e proteção da flora intestinal do bebê), glóbulos brancos e anticorpos que fortalecem o sistema imunológico do nenê e que com pequenas gotas por dia alimentam, protegem e hidratam suficientemente o recém-nascido até sua primeira semana de vida. Sua produção média por dia é de apenas 30 ml, correspondente ao conteúdo de 2 colheres das de sopa. É considerada como a “primeira vacina do bebê “e devido a sua menor quantidade e aparência mais aquosa, as mamães sem orientação adequada, comparando com o leite de vaca que é mais branco, acabam acreditando no “Mito do leite fraco”.

– a 2ª fase (transicional) acontece logo após e dura mais uns 15-20 dias. Nessa fase o leite é mais rico em gordura e lactose e possui menos proteínas e prebióticos, já tem “cara de leite” e se apresenta em grande volume causando importante distensão das mamas. 

– a 3ª fase é estágio definitivo: o leite maduro. Sua composição é suficiente para alimentar o bebê de maneira exclusiva até ele completar o sexto mês de vida, e de forma complementar até 2 anos de vida junto com a alimentação.

 

>> As fórmulas atuais realmente são quase como o leite materno?

R: A fórmula é um leite artificial que tem seus nutrientes modificados por indústrias e tem como base, principalmente, o leite de vaca ou cabra. As empresas retiram partes de alguns nutrientes que estão em excesso e adicionam alguns que estão faltando, tendo o leite materno como modelo. Entretanto, estão muito longe de ter a segurança e qualidade do leite materno que é o “padrão ouro de alimentação” para os bebês. Somente o leite materno é capaz de proteger os bebês contra infecções (diarreias, pneumonias, meningites, otites e outras), de alergias (digestivas, cutâneas, respiratórias), além de prevenir doenças crônicas no futuro (diabetes, obesidade, hipertensão arterial, e outras).

Ademais, o leite materno tem os nutrientes na quantidade e qualidade exatas que o bebê precisa em cada momento da vida. É o único leite “vivo”, e que varia sua composição no decorrer de cada mamada, sempre de acordo com as necessidades do bebê.  Vai “da fonte” diretamente ao “consumidor” e tem CUSTO ZERO! As fórmulas devem ser administradas apenas nos casos necessários e sob a orientação de pediatras e nutricionistas.

 

>> É verdade que a mãe só pode oferecer leite materno de 3 em 3 horas para a criança?

R: A recomendação do Ministério da Saúde é de que a amamentação aconteça em livre demanda, ou seja, toda vez que o bebê solicitar.  A livre demanda é mais natural, o bebê mama quando está com fome e assim atende melhor às suas necessidades.

 

>> A alimentação da mãe reflete no leite?

R: Não há comprovação de que alguma comida ou bebida altere a composição ou o sabor do leite, bem como aumente ou reduza a produção de leite materno. O que determina a produção de leite é a quantidade de vezes que o bebê mama no peito. Ou seja, quanto mais o bebê mamar, mais leite a mãe terá. É desejável que durante a amamentação, momento no qual a mulher sente mais sede por conta do esforço do organismo em produzir o leite, ela beba mais água que o habitual e aumente o porcentual calórico ingerido todos os dias.

 

>> A amamentação de fato diminui as chances de desenvolver câncer de mama?

R: As pesquisas comprovam que há associação entre a amamentação e a redução da incidência de câncer de mama, de útero e ovário. Além disso, a mãe que amamenta tem menor chance de desenvolver anemia, diabetes e depressão pós-parto.

 

>> Alguma consideração final a fazer?

R: O leite materno é o único alimento capaz de oferecer todos os nutrientes na quantidade exata que o bebê precisa para seu crescimento e desenvolvimento, principalmente se o aleitamento for iniciado na primeira hora após o nascimento, na “golden hour” (hora de ouro).  Além disso, está demonstrado que o leite materno, ao longo do tempo, está associado a uma menor incidência de doenças no bebê e pode evitar a morte de um imenso número de crianças em países em desenvolvimento, já que mais de um terço da mortalidade infantil ocorre durante o primeiro mês de vida.  A UNICEF estima que o aleitamento exclusivo pelo menos até os seis meses, e de forma complementar até os dois anos de idade, poderia evitar anualmente a morte de mais de 1 milhão de crianças menores de cinco anos.