Ganhou destaque na mídia o caso da texana Andrea Yates, que, depois de apresentar depressão pós-parto, teve psicose e matou os filhos. Esse tipo de depressão, um quadro grave, atinge de 8% a 15% das mulheres. Pode surgir até um ano depois do nascimento da criança. Já a psicose, gravíssima, ataca tanto portadoras de depressão profunda quanto mulheres aparentemente sadias.
Depressão pós-parto pode surgir até um ano depois de nascer o bebê
A imprensa divulgou recentemente o caso de uma ex-enfermeira texana, Andrea Pia Yates (36), que, após apresentar um quadro de depressão pós-parto, entrou em crise de psicose puerperal e assassinou os cinco filhos. A depressão pós-parto, um quadro grave, atinge de 8% a 15% das mulheres. Pode manifestar-se tanto logo após o parto, alcançando o clímax entre o segundo e o quarto mês, quanto até um ano depois do nascimento do filho.
<img35|left>Caracteriza-se por um estado de alteração psicológica de intensidade variável. Os sintomas principais são: humor que alterna momentos de alegria e tristeza; angústia e insônia; falta de apetite; fadiga excessiva mesmo quando não faz nenhum esforço; sensação de culpa sem motivo aparente; dificuldade de concentração; negligência consigo mesma e no cumprimento das tarefas domésticas; idéias de suicídio; desejos e pensamentos involuntários de machucar o bebê, chegando, às vezes, a agredi-lo e/ou à tentativa de suicídio.
O fenômeno é uma conseqüência de alterações nos níveis de neurotransmissores, substâncias que proporcionam o fluxo de informações entre as células do cérebro. Estão mais propensas à depressão pós-parto mulheres que já tenham histórico de depressão; as que apresentaram depressão na gravidez atual ou nas anteriores; aquelas que tenham história familiar de depressão (em mulheres ou homens); mulheres que sofreram choques por perda dos pais e de outras pessoas importantes; e aquelas cujos parceiros são indiferentes ou ausentes.
Mulheres que tiveram depressão puerperal em uma gestação anterior apresentam 50% de risco de desenvolverem a doença no parto seguinte. Vale a pena ficar atento para reconhecer e tomar as medidas preventivas, porque as possibilidades aumentam a cada nova gestação. Costumo dizer que na gravidez a mulher vive uma crise existencial de nove meses. É fundamental o apoio do companheiro e de seu círculo familiar e social. Compete ao obstetra um importante papel: ele não
pode se restringir a uma avaliação meramente rotineira, precisa ouvir com cumplicidade sua paciente e entender tudo que lhe ocorre, tranqüilizando-a para que tenha uma gestação física e emocionalmente harmoniosa.
Já a psicose puerperal é um quadro psiquiátrico gravíssimo do pós-parto. Caracteriza-se por perda brusca dos referenciais. Trata-se de um estado totalmente alterado de consciência. É mais comum em portadoras de depressão profunda, mas pode manifestar-se também em mulheres aparentemente saudáveis, que nunca foram atingidas por nenhum tipo de descontrole psicológico.
Mas vale ressaltar que cerca de 80% das mulheres que dão à luz — sobretudo as urbanas das classes mais abastadas — podem passar por um estado psicológico que os americanos chamam de blue (tristeza). Não se trata de doença. Essas mulheres apresentam um estado marcado pela melancolia. Às vezes seu humor alterna momentos de alegria e tristeza. Não se concentram e sofrem de insônia, sentem-se confusas e inseguras em seu novo papel de mãe. É natural isso ocorrer, principalmente após a primeira gravidez. O blue pode iniciar-se logo depois do parto, antes mesmo de deixarem a maternidade. Geralmente esse quadro desaparece em duas semanas.
Ao constatar desvios importantes no comportamento da paciente, o obstetra deve encaminhá-la a um psicólogo ou psiquiatra para receber tratamento adequado. Nos casos extremos, recorre-se à internação. Quanto mais tranqüila e segura a mulher chegar ao momento do parto, menores as possibilidades da ocorrência de problemas posteriores. Fazendo assim, o médico não só livra a mulher de sofrimentos como também lhe garante uma vida feliz e saudável com o futuro filho.
Copyright © 2004-2007 • Direitos reservados