É sabido que em todos os povos primitivos, assim como naqueles que não sofreram influências da civilização dita progressista, que o agachamento é a posição ideal e instintiva tanto para o esvaziamento do conteúdo de órgãos como intestinos e bexiga, quanto para a expulsão do feto no parto.

Naqueles tempos ancestrais, na maioria absoluta das culturas – hebreus, egípcios, gregos, romanos, astecas, maias – o ato de parir ocorria na posição ajoelhada ou agachada (acocorada). Entre os hebreus, as mulheres do povo davam a luz de joelhos. Maria, mãe de Jesus, como hebréia e plebéia que era, parece ter dado a luz ao Menino Jesus na posição de joelhos.

Com o aumento da comodidade nas condições de vida, o esforço físico foi sendo reduzido, levando a um enfraquecimento progressivo da força do corpo. Como consequência, para melhorar o conforto da posição do parto, surgiram, desde o Antigo Egito, numerosos artefatos – bancos, cadeiras, tocos, pedras, ossos de baleia, tiras e faixas e, finalmente, as camas onde as mulheres davam à luz deitadas (Mauriceau-1670), ”solução” para as damas sedentárias e obesas da aristocracia vigente. Ao se deitar a mulher para parir, criamos uma série de dificuldades para a evolução adequada do processo do parto normal, natural, expontâneo, fisiológico.

Em nosso meio, estudos de Moises e Cláudio Paciornik em reservas indígenas Kaingangues e Guaranis, no Paraná, constataram o bom estado dos genitais (músculos do períneo) das mulheres que haviam dado à luz de cócoras. Constataram que o parto na posição deitada era bem menos favorável que o na posição de cócoras, tanto no período de dilatação do colo quanto na expulsão do feto e na dequitação (expulsão da placenta). Foi observado também que o parto vertical – cócoras ou de joelhos – tem o seu tempo reduzido em 30% e é bem mais confortável, além de propiciar condições fisiológicas mais favoráveis ao feto durante todo trabalho de parto.

Instinto natural

A mulher, deixada livre e à vontade, procura instintivamente caminhar entre as contrações; sobrevindo uma contração, ela pára e com freqüência se agacha ou se flexiona para diante procurando algo em que se apoiar – moveis, batente de janela – e respira fundo. Com esta somatória de forças, atitudes, posições, apoios, o bebê é impulsionado para o exterior, já encontrando um canal de parto desimpedido, ideal para o parto.

Ao contrário da interação que ocorre no parto de cócoras, a mulher na posição deitada fica dissociada do bebê no processo da chegada do seu filho – nada consegue visualizar, fica desinformada, olhando para o teto da sala sem visualizar nem se realizar com todo esforço por ela efetuado.

O Dr. Basbaum, na década de 70, teve oportunidade de acompanhar os Drs. Paciornik, em conjunto com a Universidade Federal do Paraná, o trabalho de campo nas citadas reservas indígenas, bem como a prática do parto de cócoras na Casa de Saúde Paciornik, em Curitiba, em sala “ecológica” e com a utilização de cadeira obstétrica especialmente desenvolvidas para esta finalidade.

Retornando a São Paulo, passou a praticar o parto de cócoras com uma dessas cadeiras especiais na Maternidade São Luiz, o que adota até nossos dias, associado aos princípios do ritual do “Nascimento sem Violência”, propostos por Frédérick Leboyer.