Do ponto de vista obstétrico, o conhecimento da pelve óssea (PO), também chamada de bacia óssea ou quadril é indispensável, uma vez que é através dela que o feto passa para nascer durante o parto. Está constituída por quatro ossos: os dois ossos ilíacos, o sacro e o cóccix. Estes quatro ossos formam um “anel” chamado de cintura pélvica e que tem dois planos: superior ou grande pelve (também chamada de “falsa pelve”) e a inferior ou pequena pelve (também chamada de “pelve verdadeira”). Esta possui uma abertura superior ou “estreito superior”, abaixo da grande pelve e o “estreito inferior” que se comunica com o exterior. Entre ambos situa-se a porção intermediária: a escava pélvica, esta sim, da maior importância para o mecanismo de passagem do feto durante o trabalho de parto.
A passagem do bebê vai depender da compatibilidade entre os vários diâmetros ósseos e os diâmetros da apresentação fetal, mais frequentemente, da apresentação cefálica (cabeça fetal). A pelve óssea está complementada por músculos, tendões e ligamentos – chamados de “partes moles” – que lhes dá a conformação tanto interna quanto externa. Sua forma é variada e depende de características constitucionais de cada mulher.
São clássicos quatro tipos básicos ou puros: ginecoide, androide, antropóide e platipelóide. Existem importantes diferenças entre a pelve masculina e a pelve feminina, seja na constituição óssea, quanto na forma quanto nas dimensões dos eixos e diâmetros. Certas bacias da mulher apresentam características masculinas ou atípicas, o que pode dificultar ou mesmo inviabilizar um parto normal, pela via natural.
Além dos “tipos puros” de bacia existem os “mistos” cuja conformação é resultado da associação de características de vários tipos, tanto na forma quanto nas dimensões dos diâmetros, conduzindo a importantes diferenças individuais que influenciam, facilitando ou dificultando a evolução dos mecanismos do parto. Em geral, é no estreito médio da bacia onde ocorrem as “dificuldades” na adaptação ou rotação das partes fetais (cabeça ou bacia do bebê).
A simples avaliação do quadril de uma gestante por um obstetra experiente pode “sugerir” se a bacia é “boa” para um parto vaginal. Em certas situações específicas e mais raras, como malformações e fraturas, podemos antecipadamente lançar mão de recursos radiológicos para avaliar certas partes da bacia que podem interferir na evolução dos mecanismos do parto.
O mais importante, sem dúvida, é a avaliação clínica de alguns diâmetros da bacia, feita através do toque genital, o qual permite suspeitar se a cabeça fetal conseguirá transpor certos níveis da bacia (desproporção feto-materna). Muitas vezes a cabeça não insinua em função do tamanho fetal, da posição em que se apresenta ou outras, levando a indicação de uma cesariana.
Caso a parturiente esteja apresentando uma dinâmica de trabalho de parto não acompanhada da insinuação da cabeça fetal (distócia céfalo-pélvica), temos que estar atentos e abertos para indicar a cesariana. O toque vaginal bem conduzido, avaliando sobretudo o diâmetro ântero-posterior (entre púbis e sacro) e algumas projeções ósseas dentro da bacia é o que diagnostica e define se a tentativa para o parto normal deve ser prosseguida, sem que exponhamos o bebê ao “sofrimento fetal” e a parturiente, a “estafa materna”.
Autor: Dr. Claudio Basbaum
Publicado originalmente no Portal Minha Vida em 07/03/2016