Uma reportagem de Gabriela Cupani, na revista Saúde, da Editora Abril, apresenta a questão do impacto da retirada do útero e dos ovários na saúde da mulher, e de como os médicos estão cada vez mais empenhados em poupá-los.2003_08_saude_mini

“Tenho 29 anos e há três perdi todo o ovário direito e 80% do esquerdo por causa de um cisto. Agora vou ter que tirar o restante e o útero também.” Impossível não se emocionar com o relato dessa leitora. Em plena idade fértil, vai enfrentar uma menopausa precoce – com todos os riscos da queda hormonal – e nunca mais poderá gerar um bebê. Para os milhares de mulheres que ouvem um diagnóstico tão definitivo quanto esse, a situação é angustiante. Jovens ou maduras, com ou sem filhos, elas deparam com um drama de perder os órgãos que são palco de algumas funções mais importantes na vida de uma mulher, a maternidade e a produção dos hormônios da feminilidade.

Muitas vezes essas cirurgias são realmente necessárias, mas os médicos estão cada vez mais criteriosos com a indicação. Primeiro preferem lançar mão das várias opções de tratamento de que agora dispõe. Ainda assim, tem muita gente passando pelo bisturi sem necessidade, por causa de diagnósticos simplistas demais ou por puro desconhecimento dos recursos mais modernos. “Essa deve ser a última saída”, frisa o ginecologista Claudio Basbaum, do Hospital e Maternidade São Luiz, em São Paulo. De tão preocupado com o cenário, ele está relançando uma campanha pela preservação desses órgãos – uma resposta ao desejo das próprias pacientes, que cada vez mais exigem o direito de serem mulheres por inteiro.

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Mais que aconchego

A missão do útero não se limita à nobre tarefa de abrigar uma nova vida nem termina com o nascimento do bebê. O órgão ajuda a manter o assoalho pélvico que dá sustentação à bexiga. Sem esse suporte, há risco de surgir uma incontinência urinária, por exemplo. É do útero, também, que partem importantes artérias que alimentam os ovários. Mal nutridos, eles começam a entrar em falência e sua vida útil diminui, em média, seis anos. Por fim, o órgão também serve de passagem para muitos nervos. Quando esse caminho é cortado, podem surgir agumas alterações neurológicas nos genitais. “O conceito de que ele só serve para ter filhos está bem ultrapassado”, reforça Claudio Basbaum.

Tanto isso é verdade que hoje já não se discute o fato de que o útero e os ovários fazem parte de um conjunto de estruturas intimamente ligadas e que qualquer alteração pode repercurtir sobre sistemas mais amplos, como o nervoso, o endócrino e o genital. Daí a importância de preservá-los, quase que a qualquer preço.