Doutor Claudio Basbaum se tornou um confidente da cantora Elis Regina e foi responsável pelos partos de Pedro Mariano e Maria.
A década de 70 testemunhou a chegada no Brasil do Parto Leboyer. Trazido pelo ginecologista e obstetra Claudio Basbaum que aprendeu a técnica com o próprio Frédérik Leboyer. O médico francês defendia métodos naturais para não agredir o bebê na hora do nascimento e permitir o encontro de mãe e filho logo após o parto.
A nova técnica chamou a atenção de Elis Regina que tinha realizado um parto cesárea no nascimento do primeiro filho, João Marcelo Bôscoli, fruto do relacionamento com o cantor e compositor Ronaldo Bôscoli, e não de forma natural, como desejava. Quando engravidou do seu segundo filho, já casada com o músico César Camargo Mariano, ela procurou o Dr. Claudio Basbaum e decidiu que faria o parto natural.
“Na esteira da intensa repercussão em relação aos primeiros partos sob os princípios do nascimento sem violência surge em meu consultório, já grávida do segundo filho Pedro Mariano, nos idos de 1974, a nossa “Pimentinha”. Se não me falha a memória, além de ter conhecido meu trabalho através da mídia, Elis havia mantido conversas sobre o assunto na casa do conhecido diretor artístico e empresário musical, Abelardo Figueiredo. Na casa de Abelardo, costumeiramente reuniam-se artistas da época como Elis, Ronaldo Bôscoli, Claudete Soares, Wilson Simonal, Miele e outros grandes nomes da música, teatro, TV e cinema brasileiros.”
Mais do que um médico, doutor Claudio se tornou um confidente da estrela e passou a ser chamado por ela de Dr. Cegonha. As consultas com Elis eram marcadas sempre para o fim do dia e com pelo menos duas horas de duração. Tempo que ela usava não só para falar da gravidez, mas também para conversar e desabafar, contando detalhes da sua vida pessoal e profissional.
“Desde nosso primeiro encontro, quando já iniciou-se a relação médico-paciente, criou-se uma química que facilitava o meu papel como médico, amigo e cúmplice de tantas conversas. Elis chegou como uma velha amiga, alegre, desbocada, brincalhona e com aquela inconfundível gargalhada. Era muito conectada e suficientemente politizada. Seu apelido fazia jus à sua braveza e bem “dona do seu nariz”. Mas como se diz, ‘o santo bateu’.”
Já em trabalho de parto, Elis, na hora das contrações, xingava expressões que ecoavam pelos corredores do Hospital São Luiz. Mas convencida de que era o parto natural que desejava e, confiando na promessa de Basbaum de que ela teria condições de passar pelo parto, aguentou firme e sentiu dores intensas antes de recorrer ao anestesista. Pedro Mariano nasceu num ambiente tranquilo e com pouca luminosidade.
Com Maria Rita, a proposta naturalista do nascimento foi mais ousada. E ela não desistiu mesmo tendo problemas durante a gestação.
” Me lembro que no segundo trimestre da gravidez de Maria Rita, com ameaça de parto prematuro, na vigência do seu mais importante show “Falso Brilhante”, houve a necessidade de interromper as apresentações. Eu deu uma ordem médica proibindo a participação dela, pois era um espetáculo que exigia grande esforço, com uma cena suspensa num trapézio. Sob fortes protestos, ela foi obrigada a aceitar a recomendação médica”.
No dia do parto, ela ainda xingava muito enquanto caminhava pela sala do hospital sentindo as contrações. Encarou as dores dessa vez, sem anestesia. Se agachou como uma índia e Maria Rita nasceu tranquila, indo para os braços da mãe, sob uma luz fraca, num ambiente de extrema tranquilidade e alegria.
A relação entre médico e paciente não parou por aí e se manteve a mesma até a morte precoce da cantora.
“Dias antes do seu falecimento, voltando de férias, recebi um cartão de Feliz Natal e Ano Novo e ao chegar ao consultório, uma mensagem de voz na secretária eletrônica que era um apelo: “Cegonha, preciso falar com você”, mas não houve tempo”, conta Basbaum.
Como mulheres que vivem sob pressão devem encarar a gravidez?
Elis Regina era intensa e sofria, como tantas mulheres, a pressão do trabalho e da vida em família. E esse tipo de tensão, que já interfere no comportamento diário da mulher fica ainda mais evidente durante a gravidez.
“Na gestação, a mulher passa por profundas adaptações físicas e emocionais. Sentimentos controversos, ambivalências, inseguranças tipo surpresa/medo, quero/não quero, estou/não estou e questionamentos. Em geral, digo que a gestante vivencia um estado “neurótico” especial que dura 9 meses e (quantas vezes?) se prolonga sobre o período de amamentação”, explica o médico.
Para o especialista é preciso estimular a grávida a buscar momentos para o recolhimento e a meditação. Ela tem que se dar um tempo para sentir e usufruir a situação ‘mágica’ de gerar um filho. Dr. Claudio conta que certa vez, Frederic Leboyer respondeu a uma gestante que lhe perguntara: “O que posso fazer pelo meu nenê enquanto estou grávida?” e ele simplesmente respondeu “Cante para ele”.
“Isso quer dizer pense no seu bebê e dirija-se ao seu bebê. Lembre-se sempre que ali já existe uma pessoinha que já quer sentir-se desejada, amada e querida”, ressalta.
Vivenciar crises pessoais, familiares, conjugais, profissionais, mantém a liberação de neurotransmissores causadores de estresse físico-emocional. Substâncias que também atingem o bebê deixando-o, ainda na vida intrauterina, em um estado de angústia ou tristeza.
“Um bebê sendo gestado na paz e que venha nascer em um ambiente harmonioso, com certeza será um futuro cidadão mais feliz e integrado ao meio em que vive. E esses cuidados e essas ações positivas deverão criar o ambiente caloroso e alegre onde acontecerá o ritual do nascimento feliz”, finaliza o especialista.
Fonte Original: Sobreviva em São Paulo – https://goo.gl/07Zonv