Bia Fugulin – Especial para o FemininoQuando chegou o momento de Ana Beatriz nascer, não houve quem a segurasse. As contrações regulares, dilatação gradativa e as dores não deixaram dúvidas para a sua mãe. Voou para a maternidade e o parto foi normal. Já Lívia tinha data pré-agendada de nascimento: 3 de julho. Quatro dias antes, sua mãe sentiu cólicas e, com o início das contrações, foi feita uma cesárea.
Nos dois casos, o desejo materno prevaleceu. A mãe de Ana Beatriz, Mariana Pinto, 36 anos, empresária, queria parto normal. A mãe de Lívia, Daniela Dalle Molle Rejowski, 31 anos, economista, já havia optado pela cesárea antes mesmo de engravidar. A segunda faz parte de um índice que tem dado ao Brasil o título de campeão mundial de cesarianas realizadas por planos de saúde. Em 2008, as cesáreas representaram 85% dos partos feitos por meio dos convênios, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O porcentual é bem alto, considerando-se os 15% recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Esse alto índice acaba elevando o total de cesarianas realizadas no Brasil – hoje, em 43% –, que considera os setores público e privado. Se fosse levado em conta somente o porcentual do sistema público de saúde, de 26%, o País estaria próximo ao que é recomendado pela OMS e aos níveis de países desenvolvidos, como Holanda (14%) e Estados Unidos (26%).
Mas a que se deve tantas cesarianas? Segundo o ginecologista e obstetra Cláudio Basbaum, introdutor do parto Leboyer (nascimento sem violência) no Brasil, há atualmente uma conivência entre médicos e pacientes, determinada pelo próprio modo de vida moderno. “O sistema passou a ser perverso com os profissionais de saúde, que, na maior parte das vezes, não podem dispor de dez horas ou mais para acompanhar um único parto”, diz ele, que já fez mais de 10 mil partos, 70% deles normais.
As mulheres, por sua vez, já chegam ao consultório pedindo que seja feita uma cesariana, por razões variadas. A mais comum é o medo da dor e de todo o processo que envolve o parto normal. Com isso, vive-se uma época de aumento no número de cesáreas. Não se trata de condenar esse tipo de parto. Muito pelo contrário: a cesariana pode até salvar vidas. “É uma solução para um problema, mas se converteu numa maneira banal de nascer”, comenta o médico.
FANTASMA
O tão temido parto normal tem muitas vantagens. Primeiro, porque a natureza se incumbe de fazer as coisas se encaixarem no tempo certo. Há a liberação de diversos hormônios, cada um com sua específica função, desde estimular as contrações até amenizar a dor da passagem do bebê pela vagina – que, na hora do parto, estará bastante dilatada, devido à ação de outro hormônio. Hoje, também é comum o uso de anestesia em baixa dosagem, que elimina a dor, mas não a sensibilidade pélvica, possibilitando que a mulher sinta as contrações e ajude a impulsionar o bebê para fora.
Outro grande benefício do parto normal é a rapidez na recuperação. Em média, bastam 48 horas para a mãe receber alta do hospital.
Às vezes, para facilitar a saída da criança, se faz um pequeno corte entre a vagina e o ânus. Neste caso, a recuperação é de uma semana, devido à cicatrização.
A perspectiva de uma recuperação rápida foi o que levou Mariana a optar pelo parto normal, há nove anos, quando Ana Beatriz nasceu. “É o natural, o sofrimento não é tão grande. E no meu caso tudo contribuiu para que ele acontecesse: o bebê virou certinho, encaixou, deu todos os sinais.” A experiência foi tão positiva que ela não pensou duas vezes na hora de programar o parto do segundo filho, que está a caminho. “Tudo indica que será parto normal.”
A cesariana é um procedimento cirúrgico e, como tal, envolve todos os riscos de uma cirurgia, como hemorragias, infecção, possíveis lesões nos órgãos, maiores riscos de problemas em futuras gestações – como a ruptura do útero e o mal posicionamento da placenta –, possibilidade de complicações em futuras cirurgias na região da pelve, além da recuperação mais lenta. Quem se submete a cesárea tem alta de 60 a 72 horas após o parto, e leva cerca de um mês para se livrar das dores.
No entanto, a cesariana é a solução para diversos casos. As indicações não são poucas, como diz o ginecologista e obstetra Marcos Tadeu Garcia, que, embora seja a favor do parto natural, não hesita em indicar a cesárea quando o bebê ou mãe corre risco. “Bebê sentado, relação não harmônica entre a pelve e o tamanho ou movimento do bebê, falta de dilatação, sofrimento fetal e deslocamento agudo da placenta são casos em que há indicação precisa de cesárea.”
Na hora da decisão, é preciso ponderar. Daniela optou pela cesariana porque tinha medo de ser acometida por problemas como hemorróida, bexiga caída no futuro e dor por horas a fio, como foi o caso de uma amiga sua, que ficou sofrendo por 24 horas para ser submetida ao parto normal. “No final da gravidez, tive pressão alta. Aí tinha que ser este caminho mesmo”, conta.