O chamado “Parto Leboyer” foi criado pelo médico francês Frederick Leboyer no início da década de 70, na França. Leboyer foi o primeiro a dar a devida importância ao bebê e ao vínculo entre mãe e recém-nascido no momento do nascimento. Suas ideias partiam de instigantes dúvidas: “nascer é uma experiência agradável?”, “por que, quando as crianças vêm ao mundo, gritam ao invés de simplesmente respirar?”, “o que há por trás desses gritos do recém-nascido?”, “quem se preocupa com este ‘sofrimento’ do bebê ao nascer?”, “poderíamos evitá-lo?”.

O método foi divulgado ao mundo através do seu livro intitulado “Por um Nascimento Sem Violência”, cuja edição brasileira tem o nome “Nascer Sorrindo”. Assim, o ritual do nascimento que estava afastado da Natureza – que era excessivamente “medicalizado”, dentro de uma fria e impessoal sala cirúrgica muito iluminada, com ruídos e conversas entre os membros da equipe de parto e anestesias, muitas vezes desnecessárias, sem um “clima” condizente com aquele mágico momento de chegada – reencontrava a sua essência.

Ademais, o bebê era recebido com excesso de manipulações, muitas vezes também desnecessárias. Naquela época, era comum recebê-lo com a famosa palmada – prática felizmente abandonada -, com a errônea função de estimular a respiração do bebê. Logo em seguida, este era privado do seio materno para logo ser levado para um grande e impessoal berçário.

Como é realizado o parto Leboyer?

Por que não acolher este “exausto viajante” de uma forma mais afetuosa, num ambiente de penumbra e silêncio, temperatura agradável, tocá-lo e massageá-lo com movimentos suaves, esperando o tempo do cordão parar de pulsar – como a Natureza determinou para melhor fazer a transição respiratória – e entregá-lo ao seio materno, como merecem todos os mamíferos não-humanos?

Na chamada etapa seguinte do Parto Leboyer, oferecemos ao bebê uma imersão em água morna, proporcionando a ele a sensação de “volta ao útero”, onde relaxa e saboreia gostosamente a situação, próximo à mãe.

Finalmente, ao nascer, o bebê está começando a viver a sua “Grande Aventura”. Temos que saber respeitar e compreender a agressão que o nascimento pode representar e isto é tarefa que deve ser proporcionada pelo obstetra.

A falta do aconchego nessa fase tão primordial, com certeza afetará seu desenvolvimento afetivo e emocional. Como diz o Mestre Leboyer, “é poupando a criança do terror, que se torna o seu nascimento um instante encantado”. Por que não suavizar o trauma? E mais, por que aumentá-lo inutilmente?

Minha experiência com o parto Leboyer

Tive o privilégio de introduzir no Brasil, em 1974, esses princípios divulgados pelo mestre Leboyer, tendo, na ocasião, rompido alguns paradigmas pré-estabelecidos. Naquele momento, ousei incluir a presença do pai na sala de parto e a sua participação no primeiro banho do bebê aconteceu pela primeira vez no mundo, mesmo no parto cesariana. Isso provocou grande reação contrária no meio médico, mas com extensa aprovação dos protagonistas: a mamãe e o papai do bebê.

O Parto Leboyer é um exemplo de renovação do ritual do nascimento e apontado por psicanalistas como um meio de reduzir o “trauma” que significa para o bebê a saída do útero materno. Estudos realizados em “Bebês-Leboyer” defendem que esse tipo de parto gera crianças mais seguras, autônomas precocemente e emocionalmente equilibradas.

O parto traz o encontro com o desconhecido, tanto para a mãe como para o seu bebê. Nós temos a obrigação, em todo e qualquer parto, de permitir que a parturiente e o seu companheiro comemorem juntos a primeira integração social de uma criatura que chega ao nosso mundo.

Assim sendo, este verdadeiro ritual do nascimento pode e deve ser oferecido a todas as mães e bebês, desde que não estejam ocorrendo anormalidades do ponto de vista médico da evolução do parto e do bem estar fetal. Há 40 anos ofereço, no ambiente do parto, aos meus bebês, os princípios adotados por Leboyer, mesmo quando resolvido através de uma operação cesariana.

É importante saber:

Rigorosamente, não existe um “Parto Leboyer” e muito menos uma sala específica para tal! O trabalho de parto deverá evoluir sempre obedecendo a todos os critérios e cuidados recomendados para a boa assistência obstétrica, seja por qual via ocorrer, vaginal ou cesárea, em qualquer local condizente com um nascimento ou sala de parto convencional, sem adaptações específicas.

Mas o momento da chegada do bebê, ou seja, o seu nascimento, pertence a “ele” e não ao médico ou sua equipe. Assim, particularmente, eu prefiro falar em “Nascimento Leboyer”, já que não se trata de uma modalidade ou técnica específica de parto, e portanto, realizável nos ambientes compatíveis a qualquer assistência a um parto.

É apenas exigível que sigamos os princípios filosóficos e a postura profissional que norteiam o chamado “Nascimento Sem Violência”, compreendendo e respeitando o bebê como pessoa que já é. O que importa é o restabelecimento da naturalidade do nascimento, sem as desnecessárias distorções das medicina institucionalizada.

“O bebê que nasce feliz, forjará a nova imagem do mundo. Só depende de nós.”

Autor: Dr. Claudio Basbaum.
Publicado originalmente no Portal Minha Vida em 03/02/2016