A episiotomia é um corte cirúrgico, com cerca de cinco a seis centímetros, realizado na região do períneo, a partir da vagina e que pretende ampliar o canal do parto para facilitar a passagem do bebê na última fase do expulsivo, evitando uma possível laceração irregular. É feito com anestesia local, caso a parturiente ainda não tenha sido submetida a outros tipos de anestesia.

Trata-se de uma prática médica que vinha e ainda hoje vem sendo realizada sem que tivesse sido devidamente avaliada sob os critérios científicos necessários à adoção de uma nova intervenção cirúrgica.

Destaquemos que a episiotomia não é habitualmente discutida previamente como deveria, com a paciente durante a gestação.
Alcançou grande popularidade a partir das décadas de 40 e 50 quando medicalizou-se o ato do parto, transferindo-o do ambiente domiciliar para o meio hospitalar. Argumentava-se que fazer um corte cirúrgico na pele e musculatura do períneo evitava as roturas ou lacerações irregulares da região causadas pela passagem do bebê no momento do parto. Assim, em vez de uma ferida traumática, seria feito um corte regular, cuja restauração seria mais precisa. Além disso, dizia-se a que a ampliação dessa região acelerava a saída do bebê, com o que se ganhava tempo na dinâmica dos partos hospitalares em massa.

A realização da episiotomia ultrapassava a incidência de 90%, praticamente fazendo parte da rotina obrigatória da assistência ao parto normal, reduzindo lentamente sua frequência a partir dos anos 70 e 80.

Mas a episiotomia é um procedimento indispensável?

Existe hoje uma tendência mundial de tornar a episiotomia uma manobra seletiva e não sistemática, uma vez que não existem evidências científicas que comprovem maiores benefícios.

No Brasil atualmente ela é praticada em mais da metade dos casos (53,5%). E embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomende fazê-la em apenas 10% dos partos, existe um consenso entre os pesquisadores que a taxa ideal seria de 15%, não devendo ultrapassar os 30%.

É papel do médico obstetra durante o pré-natal, orientar bem a gestante para a prática de massagem e exercícios musculares simples do assoalho pélvico, com os quais a mulher pode alcançar excelente controle no nível de contração e relaxamento do períneo e com isso obter a ampliação suficiente do canal do parto no momento da saída do bebê.

Esses exercícios ajudarão, tonificando e fortalecendo o períneo, facilitando a recuperação e reduzindo o desconforto.

Outra recomendação que muito favorece, é estimular a grávida a realizar movimentos de agachamento já desde o 4º mês de gestação, assim como caminhar durante todo o trabalho de parto. Desta maneira, é possível evitar de forma fisiológica tanto a rotura espontânea quanto a episiotomia na grande maioria dos casos. Outra prática que particularmente indico e que está apoiada em estudos clínicos comparativos é adotar o parto vertical ou na posição de cócoras, cuja evolução é mais rápida, mais confortável e que mais facilita a ampliação do canal do parto, não requerendo qualquer intervenção complementar.

Destaquemos que a episiotomia não é habitualmente discutida previamente como deveria, com a paciente durante a gestação. Ou seja, o ato é realizado sem o devido consentimento informado e esclarecido, cada vez mais exigido pelas instituições médicas regulatórias, diante das possibilidades de uma série de complicações que o ato pode acarretar. Minha opinião é que o obstetra deverá sempre proporcionar à paciente as informações antecipatórias de situações e necessidades que podem surgir durante o processo da gestação, da parturição e do puerpério, exceto em situações especiais de emergência, em que os benefícios superem os riscos.

Além da operação cesariana, a episiotomia é o procedimento mais utilizado em obstetrícia no Brasil. Seu uso rotineiro, segundo a Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) pode acarretar uma série de consequências negativas tais como: alterações cicatriciais, infecção, hematoma, extensão traumática da episiotomia com lesão, por exemplo, do reto ou nervos da região, além de poder causar dispareunia (dor nas relações sexuais).

Cuidados após a episiotomia

Na recuperação pós-parto normal, deve-se cuidar da região perineal, com especial atenção:

  • Nas primeiras horas, deve-se usar compressas frias, que aliviam a dor e reduzem a reação inflamatória
  • É recomendável evitar esforços físicos, movimentos bruscos e estar atenta à postura lombar
  • Pare com o uso de roupas justas ou sintéticas, que podem aumentar o desconforto na região dos pontos
  • Higienize a área apenas com sabonete neutro, em movimentos suaves, outros produtos ou excessos podem irritar os tecidos
  • A partir do segundo dia, se necessário, faça uso de calor local (banho de assento) ajuda a diminuir a dor
  • Seque bem a região íntima, em movimentos delicados, evitando maiores traumas
  • Em caso de maior desconforto, faça uso de analgésicos (locais e sistêmicos) e anti-inflamatórios, sempre sob orientação médica
  • Comunique seu médico em caso de prisão de ventre ou ardor ao urinar.

Lembre-se que estes pontos de sutura não necessitam ser retirados, uma vez que os externos caem naturalmente na primeira semana e os mais internos (se utilizados) são absorvidos pelo organismo dentro de um prazo médio de seis semanas do pós-parto.

Autor: Dr. Claudio Basbaum
Publicado originalmente no Portal Minha Vida em 31/03/2015