corrimento genital representa uma das principais queixas referidas nas consultas ginecológicas. Dá-se este nome a qualquer eliminação de líquidos, fluidos ou espessos, que ocorra através do canal vaginal.

Em condições de normalidade, o corrimento umedece, lubrifica e protege o canal vaginal contra infecções.

Habitualmente frequente, o chamado corrimento vaginal fisiológico na maioria das vezes não representa qualquer problema ginecológico inflamatório. É constituído pela transudação de líquidos que porejam através da mucosa vaginal, bactérias de proteção da flora vaginal natural – com predomínio dos Lactobacillus acidophilus -, células mortas esfoliadas das paredes vaginais e muco do canal cervical. Em geral, tem aspecto leitoso ou transparente, praticamente sem odor ou apenas tem “odor característico” semelhante ao cheiro de batata cozida. Não coça nem arde e não apresenta qualquer sinal de “irritação” vaginal ou vulvar.

Causas do corrimento na gravidez

O estrogênio é o principal fator hormonal estimulador para a produção e aumento do corrimento fisiológico. Assim, na gestação, quando se eleva muito sua produção, o volume pode aumentar. Outro fator que contribui para o incremento do corrimento é o aumento da circulação no período gravídico, com maior aporte de sangue para região vaginal. Em geral, sua produção se acentua no último trimestre.

Corrimento com coceira

Assim, como já foi mencionado, em condições de normalidade, o corrimento observado durante a gestação deverá apresentar aquelas características típicas do chamado corrimento fisiológico de aspecto leitoso ou transparente, similar ao que deve apresentar fora da gestação, mesmo que sua quantidade possa ser variável para mais ou para menos. Não requer qualquer forma de tratamento, mas apenas os cuidados habituais para a higiene íntima, de preferência com sabonetes neutros ou glicerinados.

Cores de corrimento na gravidez

Embora em princípio não ofereça riscos à gestação ou ao bebê, o tratamento antifúngico específico (oral e/ou tópico) deverá ser instituído, a fim de sanar a desconfortável sintomatologia: ardência, intenso prurido local e dor/ardor à micção (devido ao contato da urina com a mucosa lesionada) e lesões com aspecto de rachadura da pele e mucosa genital.

Lembremos que a Gardnerella é uma bactéria que existe normalmente na flora vaginal até em 80% das mulheres com vida sexual ativa. É em condições de perda do equilíbrio ecológico da flora vaginal que ocorre a supremacia dessas bactérias, levando ao quadro clínico do que se chama vaginose, com forte odor de peixe estragado, corrimento de coloração amarelo-acinzentado e bolhoso. Em geral, não apresenta coceira íntima, mas sem dúvida é imprescindível que o tratamento específico seja realizado, objetivando restabelecer o microbioma vaginal.

No segundo/terceiro trimestre, pode significar implantação baixa da placenta (“placenta prévia”), descolamento placentário, etc.. Já no final da gestação, pode sugerir que o colo uterino já está sendo dilatado, o que promove a saída do chamado “sinal”, tampão mucoso mesclado com pequenas quantidades de material sanguinolento, ocorrência normal e previsível no início do trabalho de parto. Diante de qualquer perda sanguínea ou sanguinolenta (como acima mencionado) exige cuidadosa e imediata avaliação da equipe obstétrica.

O obstetra deve estar sempre atento e o diagnóstico laboratorial do agente causal é indispensável para evitar o agravamento e as complicações infecciosas que podem afetar a boa evolução da gestação (como rotura prematura da “bolsa das águas”, infecção intra-parto e pós parto,…), com alta possibilidade de contaminar o bebê que esteja ainda dentro do útero ou enquanto esteja migrando pelo canal vaginal, durante o trabalho de parto.

Como tratar cada caso de corrimento na gravidez

Em situações em que haja coceira ou ardência, recomenda-se o uso , sobre a região afetada, de soluções em compressas frescas de certas ervas (como a camomila) que possuem efeito calmante.

Embora a experiência clínica e o conhecimento científico do profissional possa dar um diagnóstico confiável diante das queixas da paciente, é recomendável que além da avaliação meticulosa do local, sejam realizados exames laboratoriais no conteúdo vaginal.

Prevenção

Além do tratamento específico da causa do corrimento, cuidados gerais prévios e permanentes, porém não exagerados de higiene íntima (com sabonetes de pH neutro), o uso de roupas frouxas e ventiladas (de preferência não sintéticas, uma vez que estas aumentam a temperatura e abafamento locais), e evitando-se a umidade prolongada do genital (como não secar-se adequadamente ou permanecer com roupas de banho molhadas), são medidas de ordem geral que deverão ser sempre instituídas como complementos salutares à preservação da saúde e do bem estar.

Devo alertar entretanto, que hábitos de higiene íntima excessiva ou com substâncias inadequadas (sabonetes comuns, desodorantes íntimos), podem ser fatores que provoquem ou perpetuem estados de corrimento crônico em muitas pacientes. Fato relevante que pode predispor à corrimentos e coceiras genitais é o uso o de antibióticos.

A ação de muitos deles podem alterar a flora bacteriana normal (lactobacilos), facilitando o surgimento de uma infecção por Candida, com todos os seus sintomas, ou a uma vaginose, como produto final da destruição da flora vaginal normal.

Enfim, relembrando, entre outros hábitos recomendáveis de cuidados com a saúde está a evitação da promiscuidade, o uso de preservativos e procurar assistência de profissional que valorize as suas queixas, prevenindo um maior risco de complicações. Afinal, como diz a sabedoria popular “prevenir é sempre melhor que remediar”.

Corrimento x Rompimento da bolsa

Características próprias nos permitem diferenciar um “corrimento vaginal” do que se observa quando ocorra a “rotura da bolsa amniótica”.

O líquido amniótico é constituído essencialmente por água (98%), rico em eletrólitos e células da pele fetal. Tem aspecto descrito como “água de rocha”, cristalino, às vezes com pequenos grumos. Portanto fluido e inodoro, ou podendo apresentar um odor não fétido e muito sutil, como uma solução de água sanitária.

Os corrimentos em geral são mais densos, viscosos e de colorações e odores bastante variados.

O pH (índice de acidez) do líquido amniótico é mais alcalino do que as secreções provenientes da vagina, cujo meio é essencialmente ácido.

Em caso de eliminação do “tampão mucoso”, seu reconhecimento se faz de forma evidente por suas características viscosas, de coloração amarelo-acastanhada, e com traços de sangue.

Quando devo ir ao médico?

Diante de qualquer corrimento que saia dos padrões descritos como “corrimento fisiológico“, qualquer mulher, estando grávida ou não, deverá procurar orientação profissional especializada. Nunca fazer automedicação, sobretudo fazendo “consulta com amigas”, informais, que tiveram um “quadro parecido”.

Na gestante, este cuidado deve ser enfatizado e redobrado, uma vez que poderá trazer complicações severas que venham afetar o bebê. Mais uma vez reforço que “prevenir é melhor que remediar”. Por isso, não hesite em procurar um médico quando identificar algum dos casos abaixo:

  • corrimento fétido
  • ardência ou coceira genital
  • ardência ou dor às micções
  • dor no ato sexual
  • perda sanguínea ou sanguinolenta genital
  • perda anômala ou inesperada de líquido por via vaginal.

 

A orientação é procurar imediatamente assistência médica especializada, com o suporte de seu médico ginecologista obstetra e equipe.

Texto original em: http://www.minhavida.com.br/saude/materias/30719-corrimento-na-gravidez-causas-e-tratamentos