O que são Repelentes ?

Para a ANVISA, “são produtos com ação repelente para insetos, para aplicação em superfícies inanimadas e para volatilização em ambientes, com liberação lenta e contínua do(s) ingrediente(s) ativo(s) seja espontaneamente, por aquecimento elétrico ou outra forma de energia.” Mas seu uso é também indicado sobre a pele, desde que esta esteja sem ferimentos.

Repelentes são a mesma coisa que Inseticidas?

Não é incomum que se faça essa confusão mas repelentes e inseticidas são substâncias com ações, composição química e objetivos distintos.

Comecemos explicando os INSETICIDAS, cujo objetivo é eliminar um determinado tipo de inseto, ou diversos deles.

A ação do inseticida ocorre no controle da proliferação de ovos, larvas e consequentemente da população de insetos, num local limitado à dosagem e capacidade de ação do produto. O local é sempre uma área inanimada, seja a superfície de um móvel, eletrodoméstico ou um cômodo.

A apresentação do inseticida pode ser na forma de iscas de gel , pó, aerossol, spray ou modelo de tomada.

Os REPELENTES tem como objetivo unicamente afastar os insetos para longe de uma determinada pessoa ou animal. Portanto seu uso é sobre a superfície da pele íntegra (nunca mucosas, olhos ou áreas feridas) e eventualmente na superfície da roupa que esta mesma pessoa está usando.

Aplicando o repelente (seja na forma de gel, spray, loção ou creme) sobre a área exposta, este cobre-a com uma espécie de “filme”, protegendo-a temporariamente da aproximação dos mosquitos. Se o repelente for elétrico, terá o mesmo efeito desencorajador da aproximação do inseto, dentro da área que aquela frequência elétrica, ou calor, atua. Segundo testes feitos pela revista britânica ‘Which?’ e estudos científicos revisados, os repelentes elétricos que funcionam pelo sistema de ultra-som (cujas frequências atingem os insetos mas não o ouvido humano ou de animais de estimação) tem desempenho inútil.

Apesar de sabermos que existem produtos caseiros,em geral com atividade fraca e fugaz ao optar por um produto industrializado, você estará muito mais protegido pela sua eficiência, ainda mais quando se trata de prevenção de picadas de insetos que causam doenças, como é o caso do Aedes aegypti, transmissor da dengue, zyka e chicungunya.
Vale lembrar que o efeito é por tempo determinado e variável e portanto, de quando em quando o repelente deve ser reaplicado.

Por que e como os mosquitos são atraídos ou repelidos?

Os mosquitos possuem receptores nas suas antenas que fazem com que eles sejam atraídos por odores fortes ou luz. Como respiramos e transpiramos permanentemente, liberamos estes odores que podem atraí-los.

As substâncias contidas nos repelentes, atingem os microscópicos receptores nas antenas quando os mosquitos aproximam-se da pessoa que o está usando e isso confunde o sistema de seleção e abordagem da “vítima”, no caso, nós.

Mas não são todos os mosquitos que picam. Na verdade só as fêmeas e por curto período da sua curta vida. Por um específico motivo: elas precisam de sangue para efetuar a postura dos ovos (mas também sugam sucos vegetais, como fazem os machos). Quando picam, as fêmeas injetam junto com a sua saliva o líquido tóxico que provoca coceira, irritações, e no caso do Aedes, podem inocular o vírus transmissor da dengue, zyka ou chicungunya.

Água limpa, baixas temperaturas, ventos e ambiente seco, não favorecem a presença dos mosquitos, embora o Aedes esteja adaptando-se rapidamente à vida urbana, água suja e temperaturas mais frias. Portanto ventiladores e aparelhos de ar condicionado não matam mosquitos, apenas os afastam. Depósitos descobertos, com água , seja limpa ou suja também devem ser cobertos ou eliminados.

Segundo a FIOCRUZ, existem pessoas que podem ser picadas, contaminadas pelo vírus, mas não desenvolver a dengue ou a zyka ou a febre chicungunya. No caso da dengue, cerca de metade das pessoas são resistentes. Contudo, como ainda não são conhecidos os mecanismos de transmissão gestante-feto e as consequências de uma contaminação podem ser gravíssimas, a prevenção é sempre o melhor caminho.

Qual é a maneira correta de aplicar o repelente durante o dia? E à noite? Quando é necessário reaplicar o repelente ?

Segundo a FIOCRUZ, o mosquito Aedes aegypti tem sua atividade maior no início do dia ou no fim da tarde, todavia, eles continuam atuantes em outras horas do dia, em ambientes sombreados, ao ar livre ou dentro de casa.

Usar um repelente não garante que a pessoa não será picada MAS aumenta muito a probabilidade de que ela não seja, sobretudo se usado corretamente.

As gestantes devem absolutamente fazer uso de repelentes químicos, a indicação é a mesma para o uso em adultos e devem SEMPRE ser autorizados pela ANVISA.

Na forma de produto para a pele, em loção ou creme, seu uso seria como o do protetor solar.

Como spray, deve-se proteger os olhos, mucosas e genitais do jato e aplica-lo a meia distância, para que haja espaço para o produto espalhar-se quase como vapor sobre a pele exposta.

Essa “nuvem repelente” cria um halo protetor de cerca de 4cm de espessura acima do nível da pele. Por isso não é recomendado aplica-lo em áreas que ficarão cobertas pela roupa. Porém, podem ser aplicados sobre as roupas e alguns deles resistem a várias lavagens.

Depois, ser reaplicado a cada 2 – 3 horas ou 4-6 horas, ou até 10 horas, dependendo do princípio ativo do repelente. Siga sempre as instruções do rótulo.

Outros fatores que interferem são a temperatura e a umidade ambiente: o suor reduz o tempo de ação e se a pessoa molhar-se, deve reaplicar o repelente em intervalos menores.
A eficiência é menor para os modelos elétricos (por calor) pois estes só atuam satisfatoriamente em ambiente fechados. Os dispositivos ultrassônicos e os elétricos luminosos com luz azul são ineficazes, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria.

Velas de andiroba ou citronela, também necessitam de ambientes fechados para melhorar sua eficácia. Não mais de 12m².

Esses mesmos produtos naturais, quando na forma aplicável na pele , além de não terem a sua indicação para gestantes unanimemente comprovada, tem um tempo de ação muitíssimo restrito, entre 10 e 20 minutos, devendo ser reaplicado com muito mais frequência, o que não é prático , e com maior risco de irritação na pele.

Atenção: o contato das mãos que espalharam o repelente com olhos, pele ferida ou mucosas, pode causar grande irritação. É sempre válido lembrar que devemos lavar as mãos em água corrente sempre após a aplicação do produto.

No dia-a-dia, ao se fazer uso combinado com filtros solares, hidratante e/ou maquiagem, o repelente deve ser aplicado por último, sempre 15 minutos após.

Lembrando que certos mosquitos tem hábitos noturnos, podem ser usados os mosquiteiros como barreira mecânica à noite, embora exista a possibilidade de que num descuido, um ou mais mosquitos fique preso dentro da área “protegida”. Então o mais garantido é usar repelente.

Na hora de escolher o que vestir, seja para ficar em casa, sair ou dormir, é sabido que as cores escuras são mais atrativas para os mosquitos, desta forma é mais indicado roupas claras e que cubram a maior parte do corpo.

Antes de deitar-se, não há contra-indicação em aplicar o repelente sobre a roupa de cama.

Quais os tipos de repelentes mais indicados e quais devem ser evitados na gestação?

A eficácia dos repelentes pode variar de inseto para inseto.

Embora óleos essenciais e elementos naturais (como a andiroba, a citronela, o cravo, a malva, a manjerona e o óleo da casca da laranja ou de eucalipto-limão) e ainda a ingestão de vitamina B, produzam odores que podem confundir os receptores das antenas dos mosquitos, isso não tem um efeito muito duradouro.

Quando comparados aos repelentes naturais, a proteção é dezenas de vezes menor que a dos repelentes industrializados. Para a OMS (Organização Mundial de Saúde ), estudos comparativos dos repelentes naturais ao DEET, comprovam que os primeiros mencionados acima não funcionam efetivamente.

Sobre a recomendação de uso ou não de repelentes pelas gestantes, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não vê restrições.

Em dezembro de 2015, a ANVISA emitiu um comunicado oficial que orientava: “Frente às dúvidas surgidas recentemente sobre o uso de repelentes de insetos de uso tópico em gestantes, considerando a relação que possivelmente há entre o Zika vírus e os casos de microcefalia diagnosticados no país, a Anvisa esclarece: não há, dentro das normas da Agência, qualquer impedimento para a utilização destes produtos por mulheres grávidas, desde que estejam devidamente registrados na Anvisa e que sejam seguidas as instruções de uso descritas no rótulo”.

Os 122 produtos repelentes de insetos para a pele aprovados e registrados pela ANVISA, tem ao menos um dos quatro princípios ativos abaixo:

  • DEET (nome comercial OFF, Autan, Repelex, entre outros)
  • IR3535 (nome comercial Loção antimosquito J&J)
  • Icaridina ou picaridina (nome comercial Exposis)
  • Plantas do gênero Cymbopogon (citronela)

Apenas os 3 primeiros também são recomendados pela OMS.

Na prática o que se observa é que eles não funcionam nem dão resultados semelhantes.

Devemos atentar ao fato que como cada produto tem a duração da sua ação diferente, quando comparado aos outros e portanto as instruções de uso contidas no rótulo devem sempre ser seguidas.

Comparando os princípios ativos por tempo de ação (do menos eficiente ao mais eficiente) e a segurança do uso por gestantes, teremos: os repelentes naturais, o IR3535, o DEET e o icaridina.

Por terem uma evaporação muito rápida, repelentes naturais como citronela e andiroba tem um tempo de proteção curtíssimo, entre 10 e 20 minutos, assim, não são considerados seguros para gestantes, pois ao longo dos dias, é muito difícil fazer reposições tão frequentes.

O IR3535 é indicado para crianças de 6 meses a 2 anos. Tem duração muito curta, necessitando de reaplicações a cada 2 horas. Se usado por gestante, pode deixa-la desprotegida em períodos de longa exposição.

No Brasil, a diferença entre o DEET e o icaridina , é a concentração e o tempo de intervalo para o uso. O DEET 15% deve ser passado aproximadamente de 3h em 3 h. Repelentes a base de DEET com concentrações maiores, embora mais eficazes, não são liberados à venda pela ANVISA, mas estão disponíveis em outros países.

Faz-se uma ressalva que uso prolongados de repelentes a base de DEET: conforme estudo publicado numa revista científica chamada “Plos One”, faz com que o mosquito Aedes crie uma espécie de tolerância ao produto.

A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) recomenda, como primeira escolha, os repelentes à base de icaridina (ou picaridina) com concentração de 25%, como a alternativa mais eficaz contra o Aedes aegypti. É o repelente de efeito mais duradouro na pele, atuando eficazmente contra os insetos por aproximadamente 10 horas e, em roupas , seu efeito continua mesmo após a algumas lavagens, segundo o fabricante.

Autor: Dr. Claudio Basbaum
Publicado originalmente no Portal Minha Vida em 30/03/2016