Dolce presta uma homenagem mais que especial àquelas que viveram intensos momentos de felicidade depois dos 40.A justificativa campeã entre as mães com mais de 40 anos para adiar a maternidade é a carreira profissional. Na vida moderna, a mulher ganhou seu espaço e antes de ter filhos se questiona: “Vou abrir mão de uma promoção?”, “Tenho condições financeiras de manter um filho?”, “Já fiz tudo o que queria antes de ter um bebê?”. A maioria toma a seguinte decisão: “Posso esperar”. Mas essa não é a única justificativa, elas procuram o par perfeito, o homem que amam e com quem sentem segurança em formar uma família. Neste mês das mães, Dolce presta uma homenagem mais que especial àquelas que viveram intensos momentos de felicidade depois dos 40.

POR Francilene Oliveira

MÃE A QUALQUER PREÇO

A jornalista Maria Cristina Poli dirigia-se uma vez por mês para Campinas a fim de tomar uma injeção prescrita pelo Dr. Paulo Serafini. Elas eram dolorosas, mas a única maneira de segurar o bebê que carregava dentro de si.

O Dr. Serafini chegou como um anjo depois de um périplo por diversos médicos. Ele descobriu que Cristina Poli não segurava os fetos devido a um problema imunológico, por isso recomendou uma vacina devidamente produzida, por um médico da Unicamp, com sangue compatível ao dela. O marido de Poli, Luciano Cury, foi doador e costuma brincar: “Você se tornou uma pessoa melhor depois de receber meu sangue”.

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Poli não se importava com as picadas das vacinas nas diversas partes do corpo, o mais difícil era conter a ansiedade depois de cada procedimento. Em 2002, enquanto estouravam os fogos nos jogos da Copa do Mundo, fez sua última tentativa de fertilização in vitro. No dia do resultado do teste de gravidez, chegou em casa sonolenta. Evitou ligar para o médico, pois tinha medo de que, mais uma vez, a história se repetisse. Poli foi acordada com o telefonema do Dr. Paulo Serafini: “Parabéns! Você está grávida”.

João nasceu prematuro e ficou mais de 10 dias na UTI do Hospital Albert Einstein. Poli estava com 43 anos e questionou, consternada, seu pai e grande amigo, José Campedeli: “Por que eu fui inventar de ter um filho para vê-lo sofrer nesta UTI?”

Ele respondeu: “Você tem que pensar que trouxe uma pessoa maravilhosa para ajudar este a ficar melhor. Faça todo o esforço possível para que ele saia daqui saudável”.

Quatro meses após saírem do hospital, “Seu” José adoeceu de um grave problema no pulmão. Um mês depois solicitou um gravador à filha. Numa conversa vagarosa deixou a seguinte mensagem: “João, sua mãe é uma pessoa maravilhosa. Estou indo embora e você está chegando, mas não tem problema. A vida é assim, os mais velhos vão na frente para abrir caminho para os mais novos que vêm em seguida, e com certeza a gente vai se encontrar. Um beijo de seu avô”. “Seu” José morreu logo em seguida. Os ganhos e as perdas marcaram a vida de Poli nessa época. Enquanto João crescia com saúde, Poli e Luciano pensavam em ter um segundo filho, mas a lembrança dos tratamentos dolorosos ainda estava presente. Um ano depois, Poli chegou em casa irritada, e a babá que cuidava de João recomendou um exame de urina para verificar alterações hormonais. O exame deu positivo para gravidez. Totalmente surpresa, pois não tinha feito nenhum tratamento, ligou para o marido: “Luciano, passa na farmácia e compra outro teste de gravidez.”

O resultado foi o mesmo, por isso o casal encaminhou para uma clínica onde, no exame de ultra-som, ouviu o coração de Mariana bater pela primeira vez.

Quando Poli sentiu as dores das contrações, aos 45 anos, chovia muito em São Paulo. Imediatamente, ligou para seu médico, Dr. Sang Choo Cha, especializado em gravidez de risco. Recebeu uma triste notícia e uma recomendação: o pai dele havia morrido e era para ela se encaminhar para o Fleury Medicina e Saúde. Pegou um táxi debaixo de uma chuva forte. O taxista, visivelmente nervoso e preocupado, procurava confortá-la a todo instante. Ao chegar, foi examinada e recebeu a notícia de que o bebê nasceria em breve. Poli entrou em pânico, não confiava em mais ninguém. Queria que o Dr. Sang Choo Cha fizesse o parto. “Eu não vou ter meu filho com outro médico”, repetia. “Posso beber água e aguardar até amanhã”.

Por telefone, o Dr. Sang Choo Cha encaminhou-a para o Einstein, pois enviaria um assistente imediatamente. Pouco antes do horário marcado para o parto, chega ao hospital molhado pela chuva e com o rosto inchado devido ao choro. Acabava de chagar do velório de seu pai.
Poli pediu mil desculpas.

O Dr. Sang Choo Cha olhou-a nos olhos e falou: “Estou saindo de uma situação de morte para uma de vida. Eu que agradeço, obrigado”.
Mariana berrou na sala de parto. Uma nova vida veio ao mundo.

O DIA MAIS FELIZ

Cristina Kuwahara Bocatios, aos 41 anos, vivia um dos dias mais ansiosos de sua vida. Era 5 de março de 2005 e preparava-se para is ao Hospital Santa Catarina ter seu primeiro bebê, Izabel. Mal podia acreditar que a gravidez ocorreu naturalmente e às mil maravilhas. Três anos antes sua vida era bem diferente, até conhecer Rodolfo aos 39 anos. Foi amor à primeira vista. Depois de seis meses de namoro resolveram casar e formar uma família, pois nenhum dos dois tinha filhos. Esses pensamentos passavam como um flash em sua cabeça enquanto chegava ao Hospital às oito da noite, horário marcado para a cesariana. Toda a sua tranqüilidade foi por água abaixo quando a médica chegou apenas às 23h, devido a complicações no parto anterior. Quando Cristina entrou na sala de parto sentiu-se fragilizada com medo do procedimento cirúrgico. Ao deitar na cama acalmou-se com o olhar de Rodolfo situado a seu lado.

Ao nascer, Izabel só parou de chorar quando foi ao encontro do peito da mãe, que repetia: “Você é muito amada, tem muita gente lá fora esperando você”. Izabel ficou quietinha enquanto a mãe vivenciava o momento mais especial de sua vida.

Cristina é uma executiva bem-sucedida e realizada profissionalmente. Aos 38 anos estava insatisfeita, pois ainda não havia realizado o sonho pessoal de ser mãe e, como o tempo ia passando, ficou com medo de ser muito tarde.

Antes da gravidez, consultou-se com uma especialista em fertilidade, mas não começou o procedimento. Saiu do consultório com a certeza de que engravidaria. Em seu apartamento, dói dias antes da menstruação, dirigiu-se à varanda e ao ver as crianças brincando na quadra do prédio da frente, um pensamento surgiu como um relâmpago: “Estou grávida”. Correu para a farmácia mais próxima e comprou um teste de gravidez. Deu positivo.

Acostumada à rotina de trabalho, Cristina vivenciou o lar durando os quatro meses de licença-maternidade. Ser mãe renovou suas forças, por isso decidiu ter outro filho, mas acabou perdendo o bebê. O trauma da tentativa fracassada provocou a decisão de ficar apenas com Izabel.

A CHEGADA DA CEGONHA

Patrizia Coppola é considerada uma mulher durona pelas amigas, por isso não foi surpresa quando engravidou naturalmente aos 44 anos, apesar de ter quem a considere louca por isso.

Após o nascimento da primeira filha, Valentina, quando Patrizia tinha 35 anos, nem ela nem seu marido, Alfredo, pensavam no segundo. Com o passar dos anos, uma vontade enorme de ser mãe novamente crescia dentro dela. Para não se arrepender quando as chances fossem inexistentes, retirou o DIU e deixou que o destino se encarregasse.
Manuela nasceu no dia 8 de março (Dia Internacional da Mulher) deste ano. Na Páscoa, Patrizia apresentou uma leve depressão ao ver seus amigos e família viajando enquanto ficava em casa sozinha e em pânico. Enquanto chorava contou com o conforto da filha Valentina: “Acalma mamãe, vai passar, acalma”. O especialista em ginecologia, Dr. Cláudio Basbaum, diz que cerca de 50% a 70% das mulheres que deram à luz apresentam nos primeiros meses uma leve tristeza materna, que dura até duas semanas. O agravamento dos sintomas leva a uma depressão pós-parto.

Patrizia sentiu a melancolia apenas 24 horas e retomou sua energia característica. Está apaixonada pelo bebê, às vezes se pega “amassando” a menina. Nesta segunda oportunidade está curtindo momentos como trocar fraldas, dar banho e amamentar, já que tem bastante leite, uma imersão total. Valentina também está curtindo a irmã, apesar de ter sentido ciúmes no começo pela perda de espaço e a divisão dos pais com outra pessoa.

Apesar de continuar trabalhando como tradutora e intérprete, Patrizia diminuiu o ritmo para curtir com mais intensidade essa nova fase. Fica mais tempo em casa, tem vontade de comprar porta-retrato, arrumar a casa e até discutir sobre afazeres domésticos com as amigas, fato impensável até pouco tempo atrás. A segunda gravidez a fez desacelerar, prestar mais atenção na família e fortaleceu seu casamento de 14 anos. Ter um segundo filho depois dos 40 também é apostar na relação.

Patrizia está com 45 anos. Ela é vaidosa e gosta de manter o corpo em forma. De vez em quando se pega contabilizando e comparando sua idade com a dos filhos. A se considerar que a expectativa de vida da população feminina brasileira continue por volta do 76 anos, e que suas filhas sigam seu padrão de comportamento, jamais será bisavó. Mas logo deixa esses pensamentos de lado, o importante é aproveitar o momento. O tempo passa tão rápido.

AMOR DE MÃE

“O nome dele vai ser Gabriel”, pronunciou Guilherme, através de um ato intuitivo, enquanto a mãe fazia o exame de ultra-som. Cláudia Magalhães, 41 anos, mantém a inspirada sugestão do filho de cinco anos. A segunda gravidez veio como um presente e para complementar a família com o marido, Clécio Eloy.

Menos ansiosa, não quer cometer os “erros” de mãe de primeira viagem quando ligava desesperada para o pediatra sempre que notava a mínima alteração com o filho. Para engravidar de Guilherme, chegou a procurar uma clínica de fertilização, mas considerou a abordagem do especialista pouco adequada, por isso deixou que a gravidez acontecesse naturalmente e sem ansiedade. Três meses depois engravidou.

Cláudia acredita que a energia não está na idade, mas na cabeça e nas motivações de cada um. Ela curte seu filho ao máximo. Coloca Guilherme para dormir praticamente todas as noites, conta histórias, faz cafuné, brinca de super-herói, leva ao teatro, acompanha na escola e nas aulas de capoeira, judô e natação, faz guerra de travesseiro… haja energia! E ainda consegue conciliar todas essas atividades com o trabalho, estudo e a casa.

O fato de a maternidade ter chegado para Cláudia aos 36 anos e agora aos 41 proporcionou aproveitá-la muito mais. Por ter curtido tanto a vida antes, viajado, morado fora, se dedicado aos estudos e à profissão, ela cuida dos filhos sem achar que abre mão da vida social e profissional. Muito pelo contrário, está certa de ter ganhado a melhor oportunidade de sua vida, a de acompanhar as conquistas e de contribuir para o crescimento dos filhotes. E consegue fazer isso sem deixar de buscar outros aspectos de sua vida. A maternidade trouxe, entre outras coisas, uma motivação para a vida futura.

No fechamento desta edição, dia 24 de abril, uma amiga de Dolce, Izilda Peixoto, 41 anos, ganhou um inesquecível presente de aniversário. Ela deu à luz sua primeira filha, Maria Paula, uma menina linda e saudável. Ser mãe depois dos 40 é, antes de tudo, lidar com as surpresas da vida.

CONFIRA AS CHANCES DE ENGRAVIDAR NATURALMENTE POR FAIXA ETÁRIA, EM UM ANO DE TENTATIVAS:

| até 25 anos | 75%|
| de 26 a 30 | 65%|
| de 31 a 35 | 50%|
| de 36 a 40 | 12%|
| de 41 a 42 | 8%|
| de 43 a 45 | 1%|

Fonte: Organização Mundial da Saúde